A decisiva semana da eleição presidencial de 2022 deve ser marcada pela mobilização nas redes sociais, estimulada pelas campanhas de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de Jair Bolsonaro (PL). A disputa voto a voto tem motivado um exército de anônimos, que se junta aos famosos, na função de influenciadores digitais. Eles seguem orientações das campanhas para promover ações que tentam "furar a bolha" dos candidatos, evitar abstenções e convencer indecisos.
Dentro da estratégia de expandir a influência digital, as candidaturas apostam também nas chamadas "missões do dia", mensagens que determinam o que os apoiadores devem compartilhar em grupos de família ou em redes individuais. São vídeos, cards, pedidos para assistir a lives, definidos pelas campanhas como algo que dá resultado.
Os brasileiros estão entre os que mais usam redes sociais no mundo – são 3h34 por dia, em média, segundo pesquisas. "As campanhas não têm conteúdo para isso tudo, por isso elas dependem da militância digital", disse o sócio da Arquimedes, Leonardo Barchini, que faz consultoria com base em redes sociais. Segundo ele, a estratégia das campanhas ainda é estruturada a partir do que é feito para a TV. Para dar engajamento, afirmou Barchini, a estratégia nas redes precisa ter coordenação e direcionamento, e as mensagens repassadas por todos devem focar determinados temas.
Barchini disse ver uma "maturidade tecnológica" na população, o que faz com que até as fake news tenham de ser mais "sofisticadas". O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aprovou na semana passada a ampliação dos poderes do colegiado para determinar a remoção de notícias falsas e acelerou o prazo para que a ordem seja cumprida. Canais também podem ser suspensos.
<b>DIFICULDADES</b>
Uma das dificuldades do PT, segundo pessoas ouvidas pela reportagem, é a morosidade nas decisões para as redes, já que não há na campanha de Lula alguém com tanta influência na área como o vereador do Rio Carlos Bolsonaro (Republicanos), que coordena os perfis do pai. As redes oficiais do petista estão nas mãos do fotógrafo Ricardo Stuckert, o que causa mal-estar desde o início da campanha, já que ele privilegiaria a estética das fotos no lugar de conteúdos com potencial de viralizar.
Recentemente, o deputado André Janones (Avante-MG) ganhou espaço na coordenação digital, mas tem mais liberdade de atuar em suas próprias redes do que nas do partido (mais informações na página ao lado). Na semana passada, ele criou um grupo no Telegram, reduto bolsonarista, que reuniu mais de 110 mil pessoas em cinco dias.
De lá, Janones comanda o exército de anônimos: manda vídeos, indica hashtags e quais mensagens devem ir para quais redes. "No Twitter bora focar nessa, mostrando que Bolsonaro foi pego na mentira", disse no domingo, após o presidente alegar que não tinha fotos com Roberto Jefferson. Janones fez ainda uma live no meio da tarde para dar os "comandos" a cerca de 5 mil influenciadores das redes. "Lula não é um cara das redes, precisamos ajudar a preencher essa lacuna", afirmou.
O professor Rafael Oliveira, de 45 anos, recebe as mensagens das "missões" de Janones no WhatsApp. Elas chegam a um grupo criado há três semanas por uma mãe da escola de seus filhos. Outros tantos surgiram no País depois do resultado do primeiro turno. "Eu não sou conhecido, mas vou postando tudo no Twitter", disse Oliveira. "Quando os filhos dos meus filhos perguntarem o que o vovô fez, quero que digam que eu tentei."
Além dos anônimos, um dos maiores influenciadores do Brasil na internet, Felipe Neto, se juntou voluntariamente à campanha de Lula no segundo turno, com vídeos diários. "Houve um erro estratégico de não focar no digital e usar muito mais verba de campanha em TV. É muito difícil lutar contra uma máquina de ódio e desinformação da campanha de Bolsonaro", disse.
Do lado bolsonarista, o influenciador Pablo Marçal (PROS) estimula "missões". Suas mensagens no Telegram questionam os militantes se estariam atentos aos "comandos" para formar um "batalhão" e eleger Bolsonaro. Ao <b>Estadão/Broadcast</b>, ele disse que os influenciadores têm de trabalhar "com pequenos grupos dando atenção individual".
<b>LIVES</b>
Marçal reuniu o presidente e outros nomes em uma live para 90 mil pessoas, chamada de "treinamento". No fim de semana, a campanha do presidente fez uma superlive com apoiadores, de cinco horas de duração, que teve a participação do jogador Neymar. "O que me motivou a expor a minha opinião são os valores que o presidente carrega, que são bem parecidos comigo, com a minha família, com tudo que a gente preza", disse o atleta.
A corretora de imóveis Cátia Francisco, de 40 anos, que mora em Santa Catarina, procura vídeos e mensagens que ajudem Bolsonaro e passa boa parte do dia repassando nas redes. Ela se diz "agoniada" com o segundo turno e mobilizada como nunca. "Minha irmã vai votar no PT, eu estou tentando fazer ela enxergar que só vai ficar pior. Mando tanta coisa que já virei a chata."
A diretora do Laboratório de Mídia, Discurso e Análise de Redes Sociais, da Universidade Federal de Pelotas, Raquel Recuero, afirmou que os políticos perceberam a relevância da capilaridade de conteúdos. "As redes precisam ser usadas para mobilizar pessoas e criar diálogos. A mídia só funciona quando as pessoas replicam um conteúdo publicado."
Mas a grande exposição, disse ela, pode ter efeito adverso. "Antes, quando as pessoas estavam fartas, tinham a opção de não ver o horário eleitoral. Agora a escalada da agressividade é cansativa. Há um risco da mobilização constante sair pela culatra e as pessoas não quererem se envolver com a briga."
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>