Retidos na Índia racionam até comida e pedem ajuda

Rodrigo Airaf, de 26 anos, foi expulso de dois hotéis nesta semana e vinha sendo hostilizado em qualquer momento que pisasse nas ruas por ser "gringo", o "culpado por disseminar o coronavírus". Wendell de Oliveira não consegue mais dormir porque a mulher, Ana Carolina, está grávida, e ele já começou a racionar comida porque até os mercados fecharam. Vanessa Vieira não foi aceita em um hotel por ser turista e está desesperada.

Os relatos foram enviados à reportagem por um grupo de aproximadamente 150 brasileiros retidos na Índia, país que dois dias atrás deu início a maior quarentena do planeta, com ordem para que 1,3 bilhão de indianos fiquem em casa. Diferentemente do que ocorre no Brasil, ali o fechamento é radical. Tudo parou e aqueles que saem na rua são ameaçados pela polícia.

Todos buscam uma forma de voltar urgentemente ao Brasil, mas não há voo disponível. Como não existe nenhuma rota direta entre Brasil e Índia, qualquer viagem depende de uma escala em outro país, o que complica tudo. A situação é de alerta. "Tentei arrumar lugar para dormir em dois hotéis. Me receberam por uma noite, depois disseram que tinha de ir embora. Brasileiros estão sendo xingados na rua, culpados por contaminações", diz Rodrigo Airaf, que está em Jaipur, capital do Rajastão, na Índia.

Wendell de Oliveira conta que chegou com sua minha família há um mês em Kochi, sul da Índia. "Somos cinco pessoas, meus pais, meu irmão menor de idade, eu e minha esposa, que está grávida", relata. Há 25 dias, diz ele, tudo estava normal, com sua mulher indo ao hospital para fazer os exames de pré-natal. Nesta semana, porém, a polícia foi até a casa onde estão e os proibiu de sair, uma quarentena de 14 dias. Depois, esse prazo foi estendido por 28 dias. "Nosso isolamento é total e não podemos sair nem para comprar comida. Até ontem dependíamos de serviços de entrega, mas com a quarentena muitos estabelecimentos fecharam. Já chegamos ao ponto de racionar comida", afirma.

Tiago Luiz Mendonça chegou à Índia no dia 5. "Fui convidado a me retirar pelas autoridades locais por ser estrangeiro. Eu e meu amigo mexicano fomos hostilizados. Chegaram a arremessar uma pedra enorme no telhado de nossa anfitriã. A paranoia cria um sentimento de repúdio aos estrangeiros."

<b>Petição</b>

Em desespero, o grupo de brasileiros criou uma petição online no site Avaaz, onde pedem ajuda ao governo brasileiro. Há ainda um número de brasileiros que estão sem ter como sair do Nepal, na borda norte da Índia. Apesar das hostilidades, eles têm encontrado apoio em alguns locais que os recebem. Sem opção de voo comercial ou acesso por países europeus ou asiáticos, pedem o apoio de aviões da FAB, como o governo fez com o grupo que estava em Wuhan, na China.

"Todos os mercados estão fechados, comprar comidas e coisas de necessidades básicas está quase impossível. Estou a ponto de racionar comida por aqui. Eles fecharam tudo", diz Mariana Lemos. "A polícia está mandando pessoas para casa, às vezes batendo nelas com pedaço de pau, é extremo".

Os pedidos de socorro também chegam da região do Everest, no Nepal. "A gente está aqui, presos no Nepal, em uma vila chamada Lukla, na região do Everest", diz Nathan C. "Nós estamos presos aqui nessa região que tem escassez de energia, água e recursos médicos. Precisamos voltar pra Katmandu, a capital, para depois tentar voltar para casa."

<b>Sem prazo</b>

A reportagem questionou o Itamaraty sobre o que o governo fará com os brasileiros retidos em Índia e Nepal. O Ministério das Relações Exteriores declarou que se trata "de situação excepcional que torna impossível a elaboração de cronograma preciso dos voos ou do atendimento imediato de todas as demandas existentes".

Para os brasileiros que estão na região, o Itamaraty recomenda entrar em contato com o Grupo Especial de Crise. O número para casos na Ásia e Oceania é +556198260-0613. Informações também estão sendo publicadas no site da Embaixada do Brasil em Nova Délhi. As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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