Unir duas linguagens para revelar o difícil e perigoso trabalho de mulheres mergulhadoras no mar da Ilha de Jeju, na Coreia do Sul. Foi esse o desafio da documentarista Lygia Barbosa e do fotógrafo Luciano Candisani, que fizeram juntos o filme Haenyeos, a Força do Mar, com estreia marcada para esta quinta-feira, 8, no canal National Geographic, às 20h15, e na TV Cultura, no domingo, 11, às 22h.
São imagens de mulheres batalhadoras, com idades variando de 65 a 90 anos e que pertencem à cultura haenyeos, que foi reconhecida patrimônio imaterial da humanidade pela Unesco, mas que está em vias de desaparecer, pois as gerações mais novas não estão mais interessadas nessa atividade. Essas mulheres, frágeis e fortes ao mesmo tempo, cumprem uma rotina de trabalho de 5 horas por dia dentro da água, atingindo uma profundidade de até 12 metros, e sem usar aparelhos, somente com o ar dos pulmões.
“As Haenyeos são conhecidas como mulheres fortes em todos os sentidos. Representam, sobretudo, a força feminina”, conta a diretora Lygia. “Hoje, com o declínio da atividade, existe um grande esforço do governo em valorizar essa cultura. Fazem um festival anual, tem um museu, esculturas espalhadas pela ilha e uma apresentação especial num aquário gigante”, afirma.
Lygia explica que a realização desse projeto não aconteceu de uma hora para outra. Na verdade, foram anos maturando essa aproximação. E a escolha dessas mulheres para serem o foco do documentário ocorreu por ser uma história apaixonante. “Impossível não se apaixonar por este tema, por essas mulheres e suas experiências de vida. Têm uma força inimaginável, um humor delicioso, e são muito carinhosas.” Ela conta ainda como fez para se aproximar e ganhar a confiança do grupo. “Logo no início, mergulhei com elas e aprendi a coletar o sorah (molusco), e isso as surpreendeu e nos aproximou. Elas me ensinaram o quanto podemos trabalhar duro e nos divertir ao mesmo tempo, que a amizade é uma das coisas mais valiosas na vida, principalmente depois que os filhos saem de casa.”
“O trabalho é arriscado, porém a experiência delas revela a sabedoria que têm do mar. Elas cuidam umas das outras, sabem ler os sinais do tempo, entendem seus limites físicos e isso tudo faz com que a atividade fique mais segura, mas, claro, não deixa de ser arriscada”, relata a diretora, que diz ainda que “essa história tem centenas de anos e essas mulheres passaram por muitas dificuldades, conseguiram educar os filhos e alcançar a prosperidade. Isso me fascinou”.
ENTREVISTA
Luciano Candisani, fotógrafo:
Ficou surpreso com essas mulheres e seu trabalho arriscado?
Foi uma experiência surpreendente mergulhar ao lado das haenyeos. Elas se deslocam com muita facilidade no fundo do mar. Algumas têm certa dificuldade em terra, mas, ao entrarem na água, nadam com absoluta elegância.
O que essa convivência acrescentou em sua vida?
Certo dia, eu estava com uma haenyeo de 90 anos no mar e as ondas quebravam forte no costão. Sofri para sair da água. Eu me cortei nas pedras vulcânicas e afiadas. Aquela senhora, porém, soube entender as ondas, o vento e as pedras, e simplesmente saiu andando com elegância absoluta por uma passagem segura na encosta. Ou seja, a força está na sabedoria, não nos músculos.
O que mais chamou sua atenção nesse trabalho?
Fiquei impressionado com a devoção delas ao estilo de vida que seguem. Existe uma forte identidade cultural e uma sensação de pertencimento quase palpável entre todas que conheci. Eles identificam um propósito no que fazem e na maneira que fazem.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.