Ela nasceu em Roma, num 20 de setembro – na quinta-feira, estará completando 84 anos. Sofia Constanza Brigida Villani Scicolone nasceu filha de mãe solteira e o nome comprido pode até enganar, fazendo pensar que veio de um berço esplêndido.
Sophia Loren nasceu pobre, mas a beleza foi um dom que, desde cedo, a fez destacar-se. Foi miss, e ficou em terceiro no concurso para eleger a mais bela italiana. A mãe, determinada, queria fazer dela atriz. Sophia, primeiro só Scicolone, depois Loren, foi figurante.
Apadrinhada pelo produtor Carlo Ponti, começou a ganhar papeis cada vez maiores. Um pouco dessa trajetória singular será lembrada numa retrospectiva de filmes e fotos que começa nesta segunda-feira, 17, no MIS, Museu da Imagem e do Som de São Paulo, precedendo o 13º Festival de Cinema Italiano do Brasil, apontado para a semana que vem.
Sophia passou a viver com seu mentor, mas ele já era casado e na Itália, país católico, não havia divórcio. Ponti foi acusado de bigamia, terminou se casando com Sophia, que fazia questão de legalizar a união, na França. Ponti garantiu a Sophia, através de uma parceria com Vittorio De Sica, ícone do neorrealismo, uma importante carreira na Itália. Um papel em Ouro de Nápoles, um Oscar por Duas Mulheres, em 1962.
Seguiram filmando até quase a morte dele, em 1974. Sophia virou uma estrela de língua inglesa, impôs-se como mito sexual planetário. A retrospectiva abre-se com “Matrimônio à Italiana”, um De Sica de 1964, em que ela faz dupla com Marcello Mastroianni, e deve mostrar “Duas Noites com Cleópatra”, divertida chanchada histórica de Mario Mattoli; “Ontem, Hoje e Amanhã”, um De Sica em episódios, com Sophia e Marcello; “Os Girassóis da Rússia”, outro De Sica, melodrama de guerra, ele some e Sophia, depois de muito esforço, encontra Marcello – pois é ele, de novo – desmemoriado e casado com uma russa.
A retrospectiva mostra o filme do Oscar – “Duas Mulheres”, Sophia e a filha na guerra, a garota é estuprada por soldados; “Um Dia Especial”, de Ettore Scola, em que ela faz dona de casa numa “giornata particolar” com Marcello, como gay, ambos à margem, nesses dias de festa em que Mussolini recebe Adolf Hitler, em Roma; mais dois filmes dirigidos por Lina Wertmuller, “Sábado, Domingo e Segunda” e “A Pequena Órfã”.
De Sica, que veio do movimento neorrealista e colocou na tela a Itália derrotada na guerra, filmava o povo. O curioso é que a maioria de seus filmes que celebram o estrelismo de Sophia fazem dela uma mulher do povo, exceto o episódio de “Ontem, Hoje e Amanhã” em que ela, sexy, com aquele chapelão, tenta atrair o noviço Marcello (sempre!) para o sexo.