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Retrospectiva de Tunga resume toda a carreira em 300 obras

Quatro anos após a última exposição póstuma de Tunga no Masp (O Corpo em Obras), o artista pernambucano ganha uma ampla retrospectiva no Itaú Cultural, Tunga: Conjunções Magnéticas, que será aberta no sábado, 11. A mostra, com curadoria de Paulo Venâncio Filho, reúne aproximadamente 300 obras – algumas inéditas, outras raras, pertencentes a colecionadores privados. São três andares que cobrem toda a trajetória artística (40 anos) de Tunga (1952-2016), artista reconhecido mundialmente e disputado nas feiras internacionais de arte – na última Art Basel Miami, todas as obras levadas por sua galeria, a Millan, foram vendidas.

Esse, naturalmente, não é apenas um sucesso comercial, um mero fenômeno de mercado. Críticos respeitados como o inglês Guy Brett (1942-2021) e a francesa Catherine David revelaram publicamente o forte impacto provocado pela descoberta da obra de Tunga. Segundo Brett, a escultura do brasileiro busca um novo tipo de relação com o espectador que dispensa a chave intelectual e clama pelo sensual. "Ela me comoveu e perturbou", escreveu Brett em 1989.

A resposta para essa empatia imediata está no magnetismo dessa obra que elegeu a circularidade como elemento referencial. Até por isso o curador Paulo Venâncio Filho evitou organizar a mostra de forma cronológica. Ela é assumidamente circular. Seus trabalhos mais antigos se desdobram em novas peças, revelando em sua morfologia a origem de um código sintático típico da alquimia.

"O título da exposição, Conjunções Magnéticas, define vários trabalhos em que o ímã surge como alegoria física do modo como ele pensava", diz o curador da mostra, diante da obra Portal – uma pesada peça com 900 quilos, formada por ímãs e cristais – e que funciona como uma espécie de rito de passagem para os espectadores da mostra, um bilhete para o seu mundo barroco, surrealista e francamente erotizado. Isso desde o começo, como se pode ver mais adiante, ainda no primeiro andar, em que estão expostos os desenhos de sua primeira exposição, em 1974, no Museu de Arte Moderna do Rio.

A mostra do Itaú Cultural se prolonga no Instituto Tomie Ohtake, onde o público poderá ver desenhos, o antológico filme ÃO (uma viagem por um túnel em que entrada e saída não existem) e a obra Gravitação Magnética (1987), realizada com agrupamento de ímãs do tipo ferrite. Os fios de ferro e a limalha de ferro aproximam garrafas e constituem uma das peças mais fascinantes da narrativa ficcional de Tunga, tendo sido exibida na 19.ª Bienal de São Paulo (1987) e nunca remontada.

Outra obra reconstruída para a mostra pode ser vista no Itaú Cultural. Chama-se Piscina (1975) – é uma remontagem da obra original, perdida. Usa como materiais aço galvanizado, lona, látex, um apito, um boné, uma corrente e uma tela de nylon. Uma reunião insólita como essa só encontra rival na monumental instalação À la Lumière de Deux Mondes (2005) que Tunga montou no Museu do Louvre, em Paris, que usava ferro, bronze, cabos de aço e epóxi.

<b>INSTAURAÇÕES</b>

Esta é uma exposição quase completa da obra de Tunga. O "quase", esclarece o curador, fica por conta da ausência dos trabalhos que Tunga chamava de "instaurações" – efêmeros e que exigiam a sua presença. A "instauração", conceito cunhado pelo filósofo de arte norte-americano Nelson Goodman (1906-1998), foi assumida por Tunga como meio de estabelecer conexões entre objetos definidos por estreitos vínculos referenciais – um dedo esculpido por Tunga tem extrema ressonância erótica, por exemplo.

No primeiro subsolo, está o "id" freudiano de Tunga – bichos, fragmentos do corpo humanos e fetiches de um artista que celebrou o sexo em suas mais diversas formas. O curador Paulo Venâncio Filho reuniu num "gabinete de curiosidades" desde os protótipos da exposição From La Voie Umide (2014), a particular visão dos mistérios órficos de Tunga, até as faianças com lagartos esculpidas em Portugal.

La Voie Umide é a série temática que fica na memória como a última grande contribuição de Tunga para a história brasileira. Misturando diversos materiais (gesso, terracota e cristais, sustentados por um tripé de bruxo, com caldeirões), o escultor cria seu Frankenstein contemporâneo com fragmentos de corpos numa simbiose alquímica entre matéria e espírito. A "via úmida", evoque-se, era uma das técnicas usadas pelos alquimistas para transformar a matéria, unindo o princípio ativo masculino (enxofre) com o feminino (o mercúrio, volátil). Tunga, na arte, foi o maior desses alquimistas.

Tunga: Conjunções Magnéticas
Itaú Cultural. Av. Paulista, 149. Tel. (11) 2168-1777. 3ª/dom, 11h/19h. Instituto Tomie Ohtake. R. Coropés, 88, tel. (11) 2245-1900 3ª/dom., 11h/20h. Até 10/4/2022.

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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