Estadão

Reunião proposta por governadores continua sem resposta de Bolsonaro

Uma semana depois de terem oficializado um pedido de reunião com Jair Bolsonaro e com outros chefes de Poderes, os governadores não receberam qualquer resposta do presidente da República até agora. Preocupado com a instabilidade política no País e com seus efeitos sobre a economia, o Fórum de Governadores se reuniu em Brasília, na segunda-feira passada, 23, na tentativa de encontrar um caminho para diminuir a temperatura política. Para evitar maiores atritos com Bolsonaro, foi proposto o convite para uma reunião. A ideia foi ignorada até agora pelo presidente por sugestão de seus principais aliados, que veem no movimento uma pressão contra o governo.

Mesmo assim, os governadores já marcaram uma conversa com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), que comanda o Congresso, para a esta quinta-feira, 2. Existe a possibilidade de que o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, também confirme presença no encontro.

"Nós, governadores, queremos pacificar as relações nesse País", disse ao <b>Estadão</b> o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB). "Fizemos, na semana passada, uma reunião equilibrada com o intuito de reafirmar um pacto em defesa da democracia, da Constituição e das normas legais. Essa pacificação é fundamental para melhorar o ambiente político, institucional e econômico. No entanto, a cada dia uma crise nova aparece, impede o diálogo e também a estabilização da economia e a recuperação de investimento. Precisamos dar segurança aos investidores e à grande maioria dos brasileiros que precisam de oportunidade de emprego e renda".

Casagrande observou que o grupo só está à espera da posição de Bolsonaro. "Já conversamos com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e vamos nos encontrar nesta quinta-feira, novamente, em Brasília. Também devemos falar nesta semana com o presidente do STF, Luiz Fux. Vamos continuar defendendo a união entre os Poderes, a democracia e a repudiar os ataques do presidente Bolsonaro contra as instituições", destacou Casagrande.

O governador do Piauí, Wellington Dias (PT), ainda confia na possibilidade de abertura de diálogo com o presidente. "Quem quer diálogo não pode impor, não pode dar prazo", disse ele. "Pelo Fórum dos Governadores do Brasil, seguimos abertos para a agenda e para criar um ambiente democrático, como estabelece nossa Constituição."

Dias argumentou que é necessário criar no País um clima favorável aos investimentos e marcar uma conversa entre os Poderes para tratar de pautas de interesse comum do governo federal, Estados e municípios, como uma rede de proteção aos mais pobres. "Mais vacinas, reforma tributária, medidas para conter a elevação da inflação e dos juros, plano de investimentos públicos e privados para gerar mais empregos e ampliação da renda é a nossa proposta", afirmou Dias.

A reação de Bolsonaro já tinha sido prevista pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB). Em entrevista ao programa <i>Roda Viva</i>, da TV Cultura, no mesmo dia da reunião dos governadores, Doria disse que não tinha qualquer expectativa para o pedido de encontro com o presidente.

"Não espero nada, nem o encontro. Bolsonaro não gosta do diálogo. Ele é refratário ao diálogo. Não gosta da democracia e é apaixonado pela ditadura", afirmou o governador de São Paulo.

Doria também aumentou o tom e chamou o presidente de "psicopata". "É um autoritário, além de ser um negacionista. E, a meu ver, é um psicopata, um homem doente. Se for submeter Bolsonaro a uma análise psiquiátrica, vão concluir claramente que ele é um doente", declarou.

Diante das ameaças feitas pelo presidente à democracia e de seus ataques a ministros do STF, os governadores planejavam divulgar, na semana passada, uma nota crítica a Bolsonaro. Sem consenso, decidiram optar pelo convite para a reunião.

Na carta enviada aos representantes dos Poderes, a preocupação com a instabilidade política ficou explícita. Nela é citado "o propósito de identificar e pautar pontos convergentes e estratégias visando salvaguardar a paz social, a democracia e o bem-estar socioeconômico da população brasileira".

Posso ajudar?