Economia

Revisão no modelo de ferrovias trava uso da norte-sul

O desperdício de recursos que vê no transporte pelas águas também corre solto pelos trilhos. Há um ano em meio, a presidente Dilma Rousseff fez um passeio simbólico em uma locomotiva levada até a Ferrovia Norte-Sul para inaugurar um trecho de 855 km da malha, entre as cidades de Palmas (TO) e Anápolis (GO).

Do dia em que Dilma passeou no trecho até hoje, apenas um único trem de carga cruzou por ali, carregando minério de ferro na cidade de Gurupi (TO). No mais, a malha foi acessada como atalho para que 18 locomotivas da empresa de logística VLI chegassem até o trecho superior da Norte-Sul, onde a empresa opera, entre as cidades de Palmas e Açailândia (MA).

Segundo uma fonte que atua na gestão da Norte-Sul, diversos trechos da ferrovia já estão sendo cobertos pelo mato e há pontos em que a erosão do solo começa a prejudicar a segurança. A Valec, estatal federal responsável pela ferrovia, alega que tem realizado intervenções pontuais no traçado, mas o fato é que parte dos trabalhos de manutenção só vai ocorrer, de fato, quando se souber que algum trem passará por ali.

Há expectativas de que, ainda neste fim de ano, o trecho passe a ser parcialmente usado para transporte de algumas cargas da VLI. O funcionamento efetivo desse traçado da Norte-Sul, no entanto, ainda depende das definições sobre qual será, de uma vez por todas, o modelo de exploração comercial e de concessão da ferrovia.

Outro modelo

Depois de quatro anos de discussões para montar um modelo aberto e concorrencial da utilização da malha, o governo decidiu jogar tudo fora e voltar à tradicional concessão por monopólio, onde um único operador assume a malha e, se sobrar espaço e tempo nos trilhos, abre a ferrovia para outras empresas.

Ocorre que, agora, a concessão desse trecho pronto e feito 100% com dinheiro público está condicionada à construção de mais um traçado da ferrovia no extremo Norte do País, ligando Açailândia ao porto de Barcarena (PA). São 500 km de ferrovia em solo amazônico, em mata fechada e longe de estradas, o que dificulta as operações. São tantas as dificuldades desse trecho que o próprio governo, que originalmente queria estrear seu pacote de concessões com a oferta desse empreendimento, logo desistiu da ideia, porque não encontrou interessados.

Sem uso, o que poderia estaria estar gerando receita transforma-se num fardo que ajuda a pressionar ainda mais o caixa já combalido da Valec. Até setembro, segundo informações do presidente da Valec, Mário Rodrigues Júnior, a Valec acumulava R$ 600 milhões em dívidas com fornecedores.

A falta de recursos obrigou a empresa a se concentrar em obras de manutenção e reparos da estrutura que já existe. A falta de dinheiro obrigou a empresa a adiar a compra de trilhos da China que adquiriu para tocar outro projeto, a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), na Bahia, além de ver sua força de trabalho cair de 5,6 mil para 2,9 mil funcionários, em todo o traçado da malha baiana. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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