O vocalista de uma banda, inevitavelmente, acaba se tornando também o rosto dela. O rosto e voz do RPM é o vocalista Paulo Ricardo. Foi ele também que esteve na linha de frente para fazer da banda – o gênero rock, em sua origem, sempre foi algo underground – um grupo de rock stars, o primeiro no Brasil nesse sentido.
Entretanto, o RPM não faria sua revolução musical sem o talento do músico e compositor Luiz Schiavon, que morreu nesta quinta-feira, dia 15 de junho, aos 64 anos, em decorrência de uma doença autoimune.
Nascido em São Paulo em 1958, Schiavon se formou no Conservatório Mário de Andrade. Ou seja, estudou piano erudito, a formação clássica. Mas seus ouvidos, já na década de 1970, estavam voltados para as bandas de rock.
Uma delas era o Deep Purple. O grupo britânico surgido nos anos 1968, é considerado um dos pioneiros do rock moderno com uma mistura de barroco, psicodelia, blues e rock progressivo. O jovem Schiavon, inclusive, chegou a ter uma banda cover do Deep Purple, na qual também teve seu primeiro encontro com Paulo Ricardo. Ainda estavam no radar de Schiavon bandas como Yes, Genesis e Emerson, Lake & Palmer.
Yes e Emerson, Lake & Palmer usavam sintetizadores – um tipo de teclado que tem a função de reproduzir timbres e simular outros instrumentos, algo totalmente condenável pelos mais puristas do rock. Schiavon, com formação em música clássica, fã do progressivo, se apaixonou pelo aparelho. E isso seria fundamental no som do RPM.
Schiavon foi pioneiro em usar sintetizadores no rock nacional. Eles estão nas introduções de <i>Rádio Pirata, Olhar 43</i> e <i>Alvorada Voraz</i>. Todas as três canções, das quais Schiavon é compositor ao lado de Paulo Ricardo, viraram clássicos do RockBR.
O som que Schiavon tirava dos sintetizadores fez do RPM uma banda com identidade própria, com um rock mais palatável para os ouvidos da grande massa brasileira, não acostumada com o som pesado das bandas de rock. Virou pop. Ou pop rock. Não à toa, a banda foi parar no palco do Chacrinha, um carimbo do que era, de fato, popular.
Quem viveu aquela segunda metade dos anos 1980, quando a turnê <i>Rádio Pirata</i> – e o álbum derivado dela, gravado ao vivo – tomou as paradas musicais, sabe bem a força do som que Schiavon foi capaz de tirar de seus sintetizadores. Paulo, Schiavon, Fernando Deluqui (guitarrista) e PA (baterista) tiveram seus dias de Beatles.
Schiavon chegou a assinar, ao lado de outros músicos, o livro <i>Revolucionários – Os Teclados que Mudaram a Música Para Sempre</i> – no qual ajudava a contar a história sobre o desenvolvimento dos sintetizadores. Nada é exagerado ao se falar da importância de Schiavon na música brasileira. Nem mesmo os sons que ele tirou de sua parafernália eletrônica.