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Rio inicia festival com homenagens e protesto

Foi uma bonita abertura, a do 16º Festival do Rio, com direito a homenagens a Eduardo Coutinho e José Wilker e depois a exibição de O Sal da Terra. Presentes no palco, o codiretor Juliano Ribeiro Salgado e o biografado, Sebastião Salgado, que veio acompanhado da mulher, Lélia (a mãe de Juliano). Grande fotógrafo, Sebastião Salgado já foi acusado, inclusive por Susan Sontag, de estetizar a miséria. Seria um insensível, explorando os deserdados do mundo, a quem manteria anônimo, para só ele brilhar. Se Juliano, afinal, o filho, contestasse isso não haveria quem citasse os laços de família para tentar desautorizar o afirmado, mas quem fala, no filme, e de forma clara, é o codiretor Wim Wenders.

O Sal da Terra estreia no Brasil em dezembro. Até lá, é provável que você ainda ouça falar muito desse documentário que engloba tudo – o artista, o pai, o cidadão. Criado em Aimorés, Sebastião constatou que a fazenda de seu avô, onde havia uma imensa floresta, sofria os efeitos de um desmatamento brutal. Com a mulher, criou o Instituto Terra, para reflorestar a região. O solo, revigorado, está-se reconstituindo como ecossistema e até animais selvagens, vindos não se sabe de onde nem como, hoje povoam a área, que não é particular. Virou uma reserva ecológica para o povo brasileiro.

Mesmo assim, há quem faça objeções ao filme. Sebastião, em suas inúmeras viagens e projetos, tem sido confrontado com situações extremas. Tem gente que cobra de Juliano (e Wim) um questionamento filosófico sobre o homem. O que é a vida, o mundo, para Sebastião Salgado? A questão, mesmo não formulada, atravessa O Sal da Terra. É militância, recomeço, uma luta eterna por melhoria – humana e social. Tudo isso foi celebrado no palco e na tela do Teatro Casa Grande, que abrigou a cerimônia de abertura, no Leblon. Sebastião, que o filho chama de Tião, contou histórias. Foi humilde. Disse que fotografar é um ato instintivo.
“Vocês, os cineastas, são intelectuais”, acrescentou, dirigindo-se à plateia.
Para fotografar, você precisa um bom olho e reflexos rápidos. Uma indecisão e você pode perder a boa foto, especialmente no fotojornalismo. Enquanto isso, o cineasta prepara – a luz, a câmera, o set.

Lá dentro (do teatro), o clima era esse. Lá fora, havia um protesto, não contra o festival, mas contra o que o documentarista Sílvio Tendler, em sua cadeira de rodas – era um dos que protestavam – chamou de “desmatamento do cinema carioca”. “Rio: Mais Cinema, Menos Cenário” era o lema do protesto. Numa carta aberta distribuída na porta, diretores e técnicos – muito deles com filmes nas várias (sub)seções que compõem a Première Brasil – tomam partido contra o slogan “Rio, Uma Cidade de Cinema/Rio, a Film Friendly City”, que tem procurado vender a cidade como um mero cenário para a repetição industrial de clichês e a concentração de investimentos em um único modelo de cinema.

A guerra está declarada e o possível cancelamento da linha de fomento não-reembolsável da Riofilme está sendo considerada a condenação de um cinema de pesquisa e inovação. A Carta Aberta dos que protestam – a íntegra e os nomes dos que a firmam estão no endereço www.facebook.com/mais.cinemamenoscenario – critica o que define como a marginalização de centenas de produtoras de pequeno e médio porte, ignorando seu papel na economia da cidade. O alvo principal é a SEC-RJ. Segundo o documento, “é o retrato da estagnação que se esvazia a cada ciclo eleitoral, completando dois anos sem qualquer investimento na produção”. Você pode esperar que a resposta virá, pelo menos da RioFilme. Seu diretor, Sérgio Sá Leitão, também secretário da Cultura do Rio, não é homem de fugir de polêmicas.

Tudo isso (as homenagens e o protesto) ocorreu na quarta-feira, 24, à noite. Nessa quinta-feira, 25, o festival começou para valer com, entre outros filmes, o clássico Redes, de Emilio Gomez Muriel e Fred Zinnemann, de 1936, na mostra mexicana, e o documentário À Queima-Roupa, de Theresa Jeroussoun, sobre a polícia do Rio, na competição da Première Brasil. Da chacina de Vigário Geral, em 1993, até execuções sumárias em 2012 e 13, o filme traça um retrato de terror da corrupção e violência que grassam entre policiais. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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