Variedades

Rio Montreux desafia limites da antiga Lei Rouanet e anuncia edição de 2020

O produtor Marco Mazzola quer conter a euforia para não perder o chão. Um dia depois de realizar a primeira edição do Rio Montreux Jazz Festival, uma incógnita até o última dia 6, quando o Pier Mauá começou a receber peixes grandes do jazz por quatro noites, dentre eles Stanley Clarke, John Scofield, Al Di Meola e Chucho Valdez, ele fala ao telefone cauteloso. “Só fizemos um gol, precisamos de outros cinco, seis, sete.” E afirma: “Vamos fazer o Rio Montreux em 2020, no mesmo lugar e da mesma forma, com ou sem Lei de Incentivo”.

Mazzola se refere à possibilidade de não poder usar a lei no ano que vem, que conta agora com a limitação de R$ 1 milhão para projetos da natureza dos festivais de música. O Rio Montreux, que pleiteou patrocínio antes da mudança, usou R$ 5 milhões via leis de incentivos. Seu trunfo é o histórico junto ao público e aos músicos que agora já tem. Em quatro dias de festival, 18 mil pessoas passaram pelos três palcos do evento. Outras 5 mil estiveram pelos outros quatro palcos gratuitos colocados em outros bairros. Um estudo feito pela FGV estima que o impacto na cidade foi de R$ 52,3 milhões. “Isso com a criação de 1,22 mil empregos diretos e indiretos”, diz Cláudio Romano, CEO da empresa Dream Factory, coprodutora do festival, em um texto distribuído à imprensa.

Muitas apresentações foram exclusivas em um espaço que contava com uma magia natural. Dois palcos foram montados dentro de armazéns do píer. O Villa-Lobos, para os shows mais pop (Corinne Bayle Ray, Ivan Lins com Chucho Valdez e Frejat com Zeca Baleiro e Pitty), e o Tom Jobim para a densidade do jazz e shows como os de Hamilton de Holanda com Paulinho da Costa e Maria Rita com o Quarteto Tom Jobim. Um terceiro palco ficava ao ar livre, na varanda do píer, às margens da Baía de Guanabara, um privilégio.

Dos shows de mais impacto, o violonista Al Di Meola atingiu o ponto raro em que o artista faz a plateia flutuar diante de si. Não é tão fácil assim. O mesmo foi percebido nos shows do guitarrista John Scofield, na parceria entre Yamandú Costa e a Camerata Jovem, na doçura jazzy de Corinne Bayle Ray, na espetacular guitarra de Steve Vai e mesmo em um Hermeto Pascoal tocando em condições bem adversas. Calado o tempo todo, o músico de 82 anos surgiu no palco fazendo algo que deve ter feito poucas vezes na vida. Hermeto quase não falou com a plateia. Chegou emendando um tema ao outro, com uma banda furiosa e um saxofonista (clarinetista e flautista) espetacular, JP Barbosa, e seguiu assim até o final. Na tarde de ontem, Mazzola confirmou que nem tudo estava bem no palco. “Ele estava com 39 graus de febre”, disse o produtor. Ao ser questionado se precisava de algo para subir ao palco, Hermeto respondeu que quatro garrafas de vinho tinto Miolo o deixariam perfeito. Era brincadeira, claro, ele tomou bem menos do que isso.

Nas conversas de bastidores, Stanley Clarke, um dos maiores do jazz moderno, disse que é só Mazzola ligar e informar dia e horário que ele estará de volta. A ideia é contar com Stanley novamente em 2020 para uma homenagem à obra de Milton Nascimento. “Os artistas saíram chorando do Brasil”, diz Mazzola. Ele pode estar vendendo seu peixe, claro, mas uma mensagem de Al Di Meola em seu Instagram na tarde de ontem, 10, vai ao encontro disso. “Eu já toquei em muitos festivais na minha vida, mas eu tenho de dizer que fiquei completamente impressionado com a organização desse Rio Montreux…” E segue fazendo uma série de elogios.

Há questões a se melhorar, como os pontos cegos na plateia criados pelas vigas dos armazéns, sobretudo no Palco Villa-Lobos, e uma divulgação maior a ser feita para os próprios cariocas. Em uma cidade sem tradição com circuitos de jazz sólidos – a casa Blue Note, aberta na Lagoa, ainda patina – o Rio Montreux Jazz Festival pode escrever história ao abrir clareira em uma cidade que já se acostumava com a desesperança.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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