Uma pequena e solitária sapataria na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, em Copacabana, na zona sul da capital fluminense, resistia, nesta terça-feira, à determinação do prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) para não funcionar por causa da pandemia do novo coronavírus.
Na porta, o proprietário do negócio, Rafael Tavares, de 33 anos, olhava de manhã, com ar de desolação, a principal via comercial do bairro, vazia e com lojas fechadas. Ele dispensou os três empregados e foi trabalhar sozinho. Queria argumento para convencer os fiscais a deixá-lo funcionar. Mas não havia clientes.
"Moro aqui perto, então não preciso pegar transporte aglomerado. Tem menos risco. A polícia veio aqui de manhã, mas expliquei isso e eles entenderam", contou Tavares. Apesar de estar aberta, a loja tem ficado vazia para desespero do pequeno empresário. "A cidade está parando, mas as contas não param de chegar", disse.
As medidas de restrição impostas pela prefeitura passaram a valer ontem – já havia determinações do governo do Estado. O comércio teve seu primeiro dia fechado. A exceção valeu para supermercados, farmácias, padarias, pet shops e postos de gasolina – sem lojas de conveniência. Bares e restaurantes só funcionam com entregas por delivery.
Ao longo do dia, a Prefeitura do Rio agiu com dureza contra quem não acatava a ordem para baixar as portas. A Coordenadoria de Controle Urbano anunciou que fechou uma loja de aluguel de carros na Barra da Tijuca, na zona oeste. O negócio estava aberto ao público. Empregados trabalhavam normalmente. Segundo o órgão, o local foi multado. Caso continue a descumprir as determinações, será denunciado por desobediência.
Em toda a cidade, o comércio fechado causou reclamações. O morador de rua Marcos Rogério, que trabalha com artesanato de plantas em Copacabana, na zona sul, também perdeu dinheiro. Na rua semideserta em plena um dia útil, ele contou ao Estado que havia três dias que não vendia – nem comia – nada. É que, disse ele, mesmo antes da ordem para fechar, já não aparecia gente nos bares e restaurantes, seus principais locais de exposição, por causa do medo da doença. De máscara cirúrgica, ele explicou por que não quer ir para um local de acolhimento. "Lá tem muita gente doente", disse.
O transporte vem sendo esvaziado aos poucos. Depois de uma segunda-feira de filas e aglomerações nas estações de trem, metrô e barca, ontem foi mais tranquilo. Houve, porém, algumas filas no início da manhã. No caso dos trens urbanos, a concessionária SuperVia estimou em 70% a queda no número de passageiros.
Os idosos, predominantes em Copacabana, continuavam indo às ruas do bairro, mesmo sendo um dos grupos de risco para a covid-19. Policiais patrulhavam as avenidas principais e a praia. Retiravam os moradores que, mesmo com a proibição, ainda tentavam dar a sua corridinha à beira-mar.
Moradores de rua, porém, continuavam por lá. Um deles era Alessandro Freire, de 47 anos, que ergue esculturas de areia na orla. Ontem, ele e sua arte estavam lá, na altura do Posto 5. "Não tem uma pessoa para dar uma comida, um dinheiro, nada", reclamou ao lado de sua réplica do Cristo Redentor com uma máscara cirúrgica. "Até Ele pode pegar (a doença), tá todo mundo pegando", brincou o artista. As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>