Três grifes de prestígio e, sobretudo, de sucesso internacional, radicalmente distintas entre si – <i>Homem de Ferro</i>, <i>Cidade de Deus</i>, <i>OldBoy</i> -, saltam à cabeça quando se sabe quem estará à frente das câmeras na minissérie The Sympathizer, projeto da HBO que será objeto de discussão de um dos painéis mais concorridos do Rio2C, o maior fórum sobre criatividade no audiovisual da América Latina, que começa nesta terça-feira, 11, na Cidade das Artes, no Rio de Janeiro.
A alusão à trinca de fenômenos cinematográficos despertada por essa história de espionagem, derivada do livro de Viet Thanh Nguyen, vem da escalação de Robert Downey Jr. para o elenco e da convocação dos cineastas Fernando Meirelles e Park Chan-Wook para dirigir um thriller de tons geopolíticos de alta voltagem pop.
Muitas produtoras, de cantos diferentes do globo, uniram forças para esse mix de talentos vingar, como a Team Downey (braço criativo do astro Tony Stark da Marvel), a todo-poderosa A24 (ganhadora do Oscar por <i>Tudo Em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo</i>) e a sul-coreana Moho Film, com a qual Chan-Wook fez <i>Decisão de Partir</i> (Prêmio de Melhor Direção em Cannes, em 2022). Mas há um nome do Canadá, a Rhombus Media, que já fez (bons) negócios com o Brasil antes, entre eles <i>Ensaio Sobre a Cegueira</i>, que levou Meirelles para a abertura do Festival de Cannes de 2008. Nesta sexta-feira, às 16h45, seu fundador, o canadense Niv Fichman, junta-se ao aclamado realizador paulistano, cabeça da O2 Filmes, para explicar o futuro do experimento com Downey Jr., estrelado ainda por Sandra Oh e Hoa Xuande.
"No passado, um projeto como esse para um canal como a HBO seria inteiramente feito nos EUA, com profissionais de lá, com controle criativo interno absoluto. Mas, agora, o mundo está mudando, tornando-se mais globalizado a cada dia. Para você discutir assuntos que têm tanta diversidade em sua essência, é necessária uma combinação de talentos como essa que estamos fazendo", diz Fichman ao <b>Estadão</b>. "Conheço Meirelles há anos e compartilhamos muitas opiniões acerca da preservação do planeta. Só a presença de um cineasta como esse, como Chan-Wook, e outros que reunimos pode dar a esse projeto a cara de que ele precisa para discutir temas delicados sob novas e diferentes perspectivas", completa.
<b>MIX</b>
Há cinema, streaming e tem game no Rio2C, mas também se fala de saúde, de inclusão, de luta antirracista e de sustentabilidade ecológica. É um mix dos mais variados. Entre 1.200 palestrantes, terão voz ativa a ministra da Cultura, Margareth Menezes, o cantor Gilberto Gil, a cantora e ativista Angélique Kidjo, o piloto Rubens Barrichello, a apresentadora de TV Fátima Bernardes, o cineasta argentino Daniel Burman.
No menu audiovisual, combinações de grupos criativos como a proposta por The Sympathizer na sinergia das coproduções internacionais é um dos tópicos essenciais. Com a crise econômica global e os streamings cortando custos, a busca por novas formas de financiamento e compartilhamento de riscos voltou a ganhar destaque no setor. Por isso, executivos de estúdios internacionais e nacionais (Paramount, Sony, Universal, Warner, Disney, Globo, Conspiração, O2) e plataformas digitais (Netflix, Amazon, Disney+, Warner Bros Discovery e Globoplay) asseguraram sua participação no evento.
Uns vão comandar painéis com discussões estéticas e industriais abertas ao público, outros virão ao Rio numa busca por novas oportunidades de investimento. Alguns virão só para ouvir os atuais oráculos de estratégias de financiamento, como a alemã Juliane Schulze. A especialidade dela é a arte do pitching, ou seja, como saber "vender" uma ideia.
"A Alemanha não conseguiu se posicionar de forma tão eficiente no cinema como quando acertou com as séries de TV e de streaming, que estão em todos os lugares. O desafio é saber encontrar a proposição de venda de um projeto. Um filme tem muitas camadas de significado, tem muito a dizer. A questão é encontrar a essência que mobilize o financista certo do jeito certo. O papel que eu faço internacionalmente, em parceria com quem quer emplacar projetos junto a empresas investidoras, é justamente refinar essa articulação que o nosso cinema nem sempre tem. Meu trabalho é traduzir um projeto artístico em números, para a língua de quem investe esperando retorno", diz Juliane Schulze, diretora do Investors Lab Berlin.
Ela vê com otimismo a ampliação das coproduções. "Na Europa, os mercados são fragmentados, pois as identidades são muito distintas. Há países que concentram uma produção forte com alcance global. Mas há territórios cujo conteúdo audiovisual não funciona em outras praças, por ser muito localizado, quer dizer, muito estereotipado", diz Juliane.
<b>COPRODUÇÃO</b>
Segundo uma recente listagem de coproduções internacionais da Ancine, registrada entre 2005 e 2021 e divulgada pelo Rio2C, foram lançados 213 filmes nacionais em coprodução internacional (com países da América do Sul e do Norte, da Europa e da Ásia). Houve um crescimento notável a partir de 2017, com mais de 20 lançamentos por ano (com exceção de 2020, por causa da pandemia), incluindo sucessos como Bacurau e A Vida Invisível, que fortaleceram o papel do Brasil.
É o que defende Christian Gabela, vice-presidente sênior e head para América Latina e Espanha da produtora francesa Gaumont, ao citar o sucesso da franquia Narcos, a série da Netflix que rendeu a Wagner Moura uma indicação ao Globo de Ouro. Gabela passa pela Cidade das Artes nesta sexta, às 15h. "Tenho orgulho do caminho percorrido por Narcos, abrindo espaço para grandes cineastas brasileiros como Fernando Coimbra. Depois da pandemia, o mercado volta a oferecer um caminho viável de coprodução. Por isso, vou estar no Brasil", diz.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>