Havia gente disputando os braceletes que davam acesso à sala onde ocorreu nesta quarta-feira, 1, pela manhã a coletiva do presidente da RioFilme e atual secretário de Cultura do Rio, Sérgio Sá Leitão. Desde 2009, a RioFilme, como uma das principais patrocinadoras do Festival do Rio, usa sempre o foro do evento para sua prestação de contas. A deste ano realizou-se no âmbito dos protestos que têm sacudido o festival, desde sua abertura. Sob o lema Rio, Mais Cinema, Menos Cenário, todo dia tem gente vestindo a camiseta do protesto para reivindicar desde investimentos em áreas não reembolsáveis da produção, da distribuição e exibição até mais transparência nos critérios de distribuição das verbas.
O primeiro item foi contemplado ontem com o lançamento de cinco editais no valor de R$ 10,16 milhões. Quatro contemplam investimentos não reembolsáveis, selecionados com base em critérios culturais e sociais. São os investimentos automáticos em digitalização de cinemas culturais (R$ 1 milhão), os seletivos em produção de conteúdo para web (R$ 1 milhão), em produção e finalização de longas (R$ 4,5 milhões) e também produção de curtas (R$ 660 mil). Somente a linha de investimento automático em conteúdo para TV (R$ 3 milhões) é reembolsável, e se destina a projetos de valor econômico. Sá Leitão justificou ter feito o anúncio somente ontem porque aguardava liberação e transferência de recursos para as linhas de financiamento da RioFilme. Creditou o contingenciamento orçamentário da entidade à crise que assola o País, porque, “ao contrário do que diz a propaganda, o Brasil está em recessão”.
Vamos ver se o anúncio acaba com o protesto ou se a insatisfação vai prosseguir. Nenhum manifestante desvestiu a camiseta ou deu mostras de satisfação face ao que foi conseguido “sob pressão”, avaliaram. A Première Brasil tem prosseguido com obras cada vez mais interessantes. Nesta quarta-feira, 1, ocorreram os debates de O Fim de Uma Era, longa de Bruno Safadi e Ricardo Pretti, exibido na noite anterior. É o terceiro filme do coletivo Sonia Silk, e os anteriores, O Uivo da Gaita e O Rio nos Pertence, foram exibidos no Festival do Rio do ano passado. A sinopse no catálogo do festival não dá conta do que é O Fim de Uma Era. Eles viveram, atuaram, amaram. Hoje lembram, revivem, transvivem no cinema e na vida. Para Ricardo Pretti, o filme é um ato de amor, e ele admite nunca ter feito um filme assim. “Fragiliza a gente.” Bruno Safadi, que já concorreu e venceu no Rio com Éden – melhor atriz para Leandra Leal, em 2012 -, disse que O Fim de Uma Era prossegue com sua fonte de inspiração, que é a Bel-Air, a mítica empresa de Rogério Sganzerla e Júlio Bressane.
“Para nós, é o Olimpo do cinema brasileiro.” Os codiretores dão a cara fazendo os protagonistas masculinos, mas o filme é das mulheres – Leandra Leal, que também produz, e Mariana Ximenes, mais as vozes de Helena Ignez, Maria Gladys e Fernando Eiras. Um filme sobre o mistério e o fascínio do cinema, sobre fantasmas. Sobre duas admiráveis mulheres que fazem atrizes. Quem entra no clima hipnótico – bela fotografia em preto e branco, textos recitativos – não desgruda o olho. Um biscoito finíssimo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.