Brasil e México se enfrentam em amistoso neste sábado, no Texas, com o futebol mexicano ficando novamente no centro das atenções. Com os clubes do país cada vez mais fortes e ousando em contratações, a dúvida é se tais investimentos finalmente vão refletir no desempenho da seleção dentro de campo.
Na quarta-feira, o México foi goleado pela seleção uruguaia por 4 a 0 e não deixou boas impressões. Os mexicanos estão no Grupo B da Copa América e terão pela frente Equador, Venezuela e Jamaica na primeira fase. Apenas os dois primeiros colocados avançam para as etapas derradeiras. O torneio, que terá os Estados Unidos como sede, começa no dia 20 de junho.
O México sempre foi ousado financeiramente. Por lá, as equipes são privadas e contam com milhões para investimentos. Finalista do Mundial de Clubes em 2021, o Tigres pertence a uma universidade particular e a um poderoso grupo fabricante de cimento.
De toda a elite do futebol local, somente o Pumas não tem um dono e é constituído por uma associação civil. Essa força monetária é evidenciada nas contratações – atualmente, são mais de 200 atletas estrangeiros atuando no país, mais do que o dobro do Campeonato Brasileiro. A maioria deles são sul-americanos, assim como no Brasil.
Alguns movimentos ousados aconteceram no último ano, como a saída de dois atletas da Premier League para a Liga Mexicana. Foi assim com o zagueiro Samir, revelado pelo Flamengo, e que em agosto de 2022 deixou o Watford para atuar no Tigres. Já o atacante Léo Bonatini, revelado pelo Cruzeiro, também em 2022 deixou o Wolves para jogar no San Luis.
"São movimentos ousados e que devem aumentar nos próximos anos, com protagonismo não apenas na parte técnica, mas também no campo dos eventos", alerta Renato Martinez, vice-presidente da Roc Nation, empresa de entretenimento comandada pelo cantor Jay-Z e que esteve envolvido em ambas as negociações.
Dentro deste cenário, existe um outro acontecimento que tem despertado o interesse de brasileiros pelo México, que é a presença de treinadores do País por lá. André Jardine, que comandou a seleção brasileira olímpica e faturou o ouro nos Jogos de Tóquio em 2021, assumiu o San Luis em 2022, e na temporada passada transferiu-se para o poderoso América. Levou com ele um auxiliar brasileiro multicampeão na base do Palmeiras, o técnico Paulo Vitor.
Naquela ocasião, quem assumiu o posto de Jardine no San Luis foi justamente o ex-auxiliar de Jardine, Gustavo Leal. Há alguns dias, o contrato acabou se encerrando e não foi renovado. Quem assumiu a equipe em seu lugar foi um comandante conhecido do torcedor flamenguista, o francês Domenéc Torrent.
Por outro lado, Maurício Barbieri deixou o Red Bull Bragantino e assumiu o Juarez, em fevereiro deste ano. Com ele, são três treinadores brasileiros comandando times mexicanos – o outro é Tuca Ferretti, do Cruz Azul. Para especialistas, a presença de comandantes brasileiros deve fazer com que mais atletas do país atuem por lá. Esse impacto já refletiu em um acordo mais recente, do meia-atacante David Terans, que estava no Athletico e foi negociado com o Pachuca.
"É um país muito bem estruturado, que sempre importou muitos jogadores de fora, especialmente argentinos. Acredito que essa expansão internacional possa ser acelerada com a disputa da Copa de 2026 e pela quantidade de eventos que envolvem todo aquele entretenimento bem trabalhado que conhecemos do mercado dos Estados Unidos. Como a presença de mexicanos por lá é muito grande, as oportunidades de intercâmbio cultural e de negócios entre os países aumentam", aponta Renê Salviano, CEO da Heatmap e especialista em marketing esportivo.
Pode se repetir algo parecido com o que acontece com jogadores argentinos – são mais de 100 no México, muito em razão da grande quantidade de técnicos dessa nacionalidade no país.
"Os argentinos se adaptam mais rápido do que os brasileiros neste tipo de situação, e o fato de a Liga Mexicana ter muitos treinadores da Argentina contribuem para isso também. Mas esse movimento com a ida do Jardine, do Barbieri, que estão em times bem posicionados, pode contribuir para o crescimento de brasileiros", complementa Renato Martinez, da Roc Nation.
Existe um outro movimento, também ousado, que tem a ver com questões que vão além da parte técnica, como a disputa do Super Mundial, em 2025, e Copa do Mundo, em 2026, nos Estados Unidos, além de outros eventos como Copa América e Jogos Olímpicos. Até mesmo a ida de Messi e outros craques ao país têm a ver com esse crescimento visando todos esses eventos.
"A Leagues Cup, que já está acontecendo, é um torneio que coloca em evidência os times americanos e mexicanos, faz parte de uma integração que torna tanto a Liga Mexicana quanto a MSL mais competitivas", aponta Martinez.
O torneio que ele se refere conta com 47 times – incluindo os campeões da MLS Cup 2022 e da Liga MX, LAFC e Pachuca, que estão classificados automaticamente para a fase de oitavas de final. Os outros 45 times são divididos em grupos de três equipes, e brigam pelas vagas no mata-mata. Essa competição marcou a estreia de Messi em disputas internacionais.