Quase sete meses depois de decolar da Terra, a espaçonave Rover Perseverance pousou no final da tarde desta quinta-feira, 18, em Marte. A missão americana, da Nasa, vai buscar sinais de vida no planeta vermelho – para isso, o robô vai recolher amostras de rochas e sedimentos marcianos e trará de volta para a Terra pela primeira vez na história.
Todos os cronogramas foram cumpridos conforme o previsto pela agência americana. A espaçonave deixou a Terra no dia 30 de julho e pousou na cratera Jezero. No local escolhido, há cerca de 3 a 4 bilhões de anos, havia um imenso lago, em uma área de 500 quilômetros quadrados.
Os sete minutos finais antes do pouso correram sob tensão. Em silêncio, cientistas em uma sala acompanhavam o minuto a minuto da aproximação da espaçonave ao planeta vermelho. Às 17h48, o Perseverance entrou na atmosfera de Marte sob aplausos. Vieram os minutos finais – eles são considerados os mais difíceis, pois é preciso que a espaçonave diminua a velocidade para fazer o pouso.
O paraquedas foi aberto: mais apreensão e contagem regressiva na tela. Um monitor mostrava a projeção do Perseverance se aproximando do alvo, a cratera Jezero. Houve silêncio dos cientistas da Nasa até as palmas finais, pelo pouso histórico.
O Perseverance irá perfurar as rochas, procurando material orgânico para ser coletado. Não há pretensão de encontrar vida como a nossa em Marte (mamíferos, por exemplo), mas há a possibilidade de descobrir se já existiram colônias de bactérias (vida microbiana).
"Temos fortes evidências de que a cratera Jezero já teve os ingredientes para a vida. Mesmo se concluirmos, após a análise de amostras devolvidas, que o lago era desabitado, teremos aprendido algo importante sobre o alcance da vida no cosmos", disse Ken Williford, cientista-assistente do projeto. "Que Marte tenha sido ou não um planeta vivo, é essencial compreender como os planetas rochosos como o nosso se formam e evoluem. Por que nosso próprio planeta permaneceu hospitaleiro enquanto Marte se tornou um deserto desolado?"
Desde a década de 1970, uma série de sondas e satélites já foi enviada para Marte por diferentes países. Os rovers, especificamente, são capazes de fazer estudos mais detalhados e já estiveram cinco vezes em Marte desde 1997 – todas em missões da Nasa. O mais recente veículo a pousar na superfície do planeta vermelho foi o Curiosity, em 2012. Entre outras descobertas, ele revelou a existência, no passado, de água estável.
A expectativa é de que o veículo permaneça durante pelo menos um ano em solo marciano – o que equivale a dois anos na Terra. Não há data de retorno para casa. Isso porque há uma janela para as viagens acontecerem. Terra e Marte ficam mais próximas a cada dois anos e dois meses. Até por isso, há outras missões em andamento, como a sonda Hope (Esperança), dos Emirados Árabes Unidos, e da chinesa Tianwen-1 (Astronomia 1).
Cada sonda teve de percorrer uma longa etapa, cerca de 400 milhões de quilômetros entre os dois planetas. Uma das fases mais críticas da missão é a de travar as sondas para que não cheguem muito depressa ao planeta, o que pode causar a destruição automática do equipamento em Marte.
"Esperamos que os melhores lugares para procurar bioassinaturas sejam no leito de Jezero ou em sedimentos costeiros que podem estar incrustados com minerais, que são especialmente bons na preservação de certos tipos de vida fossilizada na Terra", disse Ken Williford, cientista-assistente do projeto. "Mas à medida em que buscamos evidências de micróbios antigos em um antigo mundo alienígena, é importante manter a mente aberta", afirmou.
A Nasa lembrou que a humanidade está focada em Marte desde que Galileu pôde observá-lo por um telescópio em 1609. "(O planeta) já teve vida algum dia? A resposta pode estar esperando em algum lugar da cratera de Jezero", declarou.
<b>Câmera</b>
O Rover Perseverance pesa cerca de uma tonelada e tem cerca de 3 metros de comprimento, 2,7 metros de largura, e 2,2 metros de altura. Há, nele, sete instrumentos inovadores que, se tudo der certo, poderão ampliar como nunca os conhecimentos sobre Marte. Um desses equipamentos é a Mastcam-Z, um sistema avançado de câmera com capacidade de imagem panorâmica com alta capacidade de zoom. Essa câmera poderá ajudar a determinar a mineralogia da superfície marciana e ajudar nas operações do veículo rover.
Outro equipamento enviado, a SuperCam, é um instrumento que pode fornecer imagens, análise de composição química, e mineralogia à distância. Há, ainda um espectrômetro de fluorescência de raios X e gerador de imagens de alta resolução para mapear a composição elementar em escala fina dos materiais de superfície de Marte. Esse equipamento permite detectar e analisar, de forma mais detalhada, os elementos químicos que compõem o planeta.
A Nasa enviou também um outro espectrômetro que, fazendo uso de um laser ultravioleta, produzirá imagens que possibilitarão o mapeamento da mineralogia e de compostos orgânicos. "Este será o primeiro espectrômetro Raman UV a voar para a superfície de Marte e fornecerá medições complementares com outros instrumentos na carga útil", informou a Nasa. Ele inclui uma câmera a cores de alta resolução para a obtenção de imagens microscópicas da superfície de Marte.
Um experimento interessante a ser feito em Marte (a Mars Oxygen In-Situ Resource Utilization Experiment), tentará produzir oxigênio a partir do dióxido de carbono atmosférico marciano. "Se bem sucedida, a tecnologia Moxie poderá ser utilizada pelos futuros astronautas em Marte para queimar combustível de foguete para regressar à Terra", detalhou a agência espacial.
Por fim, a missão tem um conjunto de sensores (o Mars Environmental Dynamics Analyzer) que fornecerão medições de temperatura, velocidade e direção do vento, pressão, umidade relativa, e tamanho e forma da poeira; e um radar de penetração no solo que proporcionará uma resolução à escala centimétrica da estrutura geológica do subsolo.
"Para citar Carl Sagan. Se virmos um ouriço olhando para a câmera, saberemos que há vida atual e certamente antiga em Marte, mas com base em nossas experiências anteriores, tal evento é extremamente improvável. Alegações extraordinárias requerem evidências extraordinárias, e a descoberta de que existia vida em outras partes do universo seria certamente extraordinária", disse Gentry Lee, engenheiro-chefe de um laboratório da NASA. (Com agências internacionais)