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Rock in Rio Volta a receber um público avassalador

O Rock in Rio cresceu com a nova Cidade do Rock e voltou a enfrentar seu maior inimigo. O público estimado diariamente em 100 mil pessoas, segundo a organização, testou e reprovou a estrutura em alguns quesitos importantes. Apesar da qualidade da produção na entrega de áreas novas, como banheiros, espaços de alimentação e de jogos, o fluxo em momento de pico causou sofrimento.

Vários fãs relataram problemas com a saída, tanto na direção do transporte coletivo BRT quanto no acesso para pedestres à Avenida Embaixador Abelardo Bueno, em frente ao Parque Olímpico. Uma grade verde impede a circulação direto para a rua (que, na madrugada, está bloqueada para tráfego, mas os táxis e veículos cadastrados já causam um engarrafamento).

Quem usa a saída principal precisa andar 500 metros para acessar o único portão que dá acesso à calçada, que, estreito, não dá vazão para a quantidade de pessoas. Um problema parecido é enfrentado pelos usuários do BRT, que também relataram, na página oficial do Rock in Rio, no Facebook, furtos e arrastões.

A engenheira Kissila Caeres elogiou a organização, mas destacou a saída como ponto negativo. “Único destaque negativo, mas extremamente preocupante, é a saída. Absurdo total o afunilamento em um portão minúsculo para milhares de pessoas que geralmente saem ao término do show principal”, avaliou nas redes sociais.

Espaços novos e festejados, o Gourmet e o complexo de games Gamezone parecem ter atraído uma massa acima de suas capacidades de trabalho. As filas enormes para jogar e se alimentar se tornaram a regra nas tardes de sábado e domingo. A Gamezone não conseguiu fazer o público de entrada e saída fluir com agilidade e segurança. Já no ambiente dos restaurantes, pessoas tomavam lugares de deficientes e muitas se alimentavam de pé. Os pastéis da casa O Melhor Pastel do Mundo vinham frios. Havia agilidade maior no restaurante japonês. Em 2013, o Rock in Rio reduziu suas capacidades para 85 mil pessoas depois de experiências assim em 2011. Agora, volta a crescer para 100 e, apesar do espaço maior, lidar com as mesmas questões.

Nos palcos

Frejat, que estreou seu novo show, Tudo se Transforma, teve uma apresentação recheada do bom e velho rock and roll. “Agora vou tocar uma parceria minha com o Cazuza. Nunca toquei essa canção antes. Quero a ajuda de vocês. Ela está cada vez mais verdadeira”, disse antes de fazer uma versão mais truculenta de Ideologia.

Ao som dos gritos ensurdecedores de “Fora, Temer”, o público mal teve tempo para ouvir a bela homenagem a Luiz Melodia, com Negro Gato. O show ainda teve seus momentos menos densos. Ao violão, Frejat fez duas versões bem delicadas de O Poeta Está Vivo e Por Você.

Comparado a outros dias, principalmente à apresentação do Maroon 5, o som de Frejat estava bem mais alto e audível. Com isso, a performance do ex-Barão Vermelho ganhou força e agradou ao público. A balada Segredos fez todos cantarem. Casais apaixonados fizeram juras eternas de amor.

O show de Johnny Hooker com os convidados Liniker e Almério se tornou o mais político do festival. Na atitude dos três no palco, na mensagem, na postura. Como já fizeram artistas no passado, quando o posicionamento político estava explícito e implícito nas suas canções, os três expressam o que sentem e pensam. Escancaram a insatisfação, como quando Liniker cantou um “Fora, Temer” em meio aos versos desesperadamente românticos da música Zero.

O público respondeu com gritos de aprovação, com o coro da mesma frase, entre uma canção e outra. Quando o telão ao fundo do palco exibiu a frase “Amar Sem Temer”, cuja interpretação é livre àquele que a lê, mais palmas de aprovação. A comunicação entre artistas e público estava em sintonia ali.

Era um show de Hooker com convidados, então o artista do Recife brilhou, todo coberto de lantejoulas douradas, prontas para refletir o sol do fim de tarde de domingo, 17. Alma Sebosa, cantada no início da performance, é um amor raivoso, daqueles que quer se arrancar do peito à força.

É daí que vem a arte de Hooker, da intensidade que se ama. Para o bem ou para o mal, ama-se como se fosse o último romance, a ponto de colocar fim na existência. Impiedoso, esse amor machuca e sangra, tal qual mostrado em Amor Marginal, outra cantada a pleno pulmões, no palco e no lado de cá, do público. Com Almério, Hooker canta a saudade ardida de Volta – sozinho, o também pernambucano Almério executou Respeita Januário, de Luiz Gonzaga.

Juntos, os três executaram Não Recomendado, canção de Caio Prado, uma pedrada das mais políticas. Ao final, os três cantores exibiram uma bandeira com a frase: “Acreditamos em um mundo melhor #amazonialivre”. E assim, no tom politizado, chegou ao fim um show sobre o amor.

Afinal, o amor também é político. Em tempos de ódio, o amor é remédio. É a solução. (Guilherme Sobota, João Paulo Carvalho, Julio Maria, Pedro Antunes e Roberta Pennafort)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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