Os primeiros dias de funcionamento da Roda Rico têm sido de frustração para muitos usuários, que relatam filas de até quatro horas, atrasos, falhas no ar condicionado, falta de acessibilidade pelos elevadores e problemas técnicos variados. Considerada a maior roda-gigante da América Latina, com 91 metros, a estrutura foi inaugurada na quinta-feira passada, dia 8, em um evento para influenciadores, convidados e autoridades, ainda em meio a obras finais no espaço, localizado no Parque Candido Portinari, ao lado do Parque Villa-Lobos, na zona oeste da cidade de São Paulo.
Na quinta-feira, a reportagem do <i>Estadão</i> visitou o local às 10h para fazer imagens da roda-gigante horas antes da inauguração. O funcionamento foi adiado naquele horário e diversas vezes ao longo do dia para ajustes técnicos, enquanto dezenas de trabalhadores atuavam em diferentes frentes na estrutura e nas instalações do entorno, com guindastes, soldas e instrumentos diversos. Funcionários relataram trabalharem até de madrugada nos últimos dias antes da inauguração às pressas, após adiamentos. Originalmente, a roda-gigante deveria ter sido aberta em 2021.
Na sexta-feira, 9, o primeiro dia de funcionamento ao público em geral teve um problema de superaquecimento no ar condicionado, que gerou a suspensão das atividades nas horas seguintes e filas para a remarcação das entradas. Outros problemas se repetiram também no sábado, 10, e no domingo, 11, gerando uma onda de reclamações no local e nas redes sociais do espaço, gerido pela Interparques.
"Caos", "roda do estresse" e outras expressões foram utilizadas para descrever a situação. Algumas pessoas têm declarado que irão formalizar reclamações no Procon-SP. "Quando chegamos, maior caos. Ninguém informa nada e a roda estava parada. Levei crianças e todas se decepcionaram", descreveu uma usuária.
Uma das principais insatisfações é a necessidade de aguardar em uma fila mesmo entre aqueles que compraram o ingresso pela internet, com hora marcada. Há relatos de duas a quatro horas de espera, sem abrigo do sol e orientação sobre a estimativa de realização do passeio. Reclamações sobre falta de informação são comuns.
Além do calor e do cansaço, a demora também atrapalhou a expectativa do passeio em si. Alguns usuários compraram ingressos para ver a paisagem durante o dia ou no por do sol, mas conseguiram entrar na cabine apenas à noite, por exemplo. "Estou na fila por duas horas. Vocês vendem por horário, mas não atendem no horário. Era para eu ir às 17 horas. Não vou conseguir ver de dia. Uma decepção", comentou uma jovem.
O calor dos últimos dias foi outro fator de insatisfação. O ar condicionado teve problemas técnicos, restringindo o funcionamento parcial da roda-gigante, com parte das 42 cabines. Mesmo assim, há relatos de que a refrigeração estava insuficiente e "fraca" para os mais de 30ºC registrados no último fim de semana.
A acessibilidade também gerou reclamação. Os elevadores estavam com problemas e o caminho do estacionamento até o espaço, enlameado. "O acesso para a roda tem lama e está bem escuro", disse uma visitante.
<b>Viagem</b>
A inauguração do espaço tinha gerado expectativa na cidade. Pessoas que compraram o ingresso para os primeiros dias têm se declarado decepcionadas, algumas saíram de bairros distantes e outros municípios apenas para conhecer a roda-gigante. "Compramos mês passado. Amigas vieram de longe e voltaram sem fazer o passeio. Se não estava pronto, por que inaugurou?", reclamou uma frequentadora. "Quatro horas de viagem, hotel, pedágio, para passar estresse", disse outro.
<b> Canteiro de obras </b>
Parte dos frequentadores questiona o motivo da abertura se ainda há obras visíveis no local. "Inauguração sem estrutura nenhuma, pessoa na fila no sol, parece um canteiro de obras", descreveu uma usuária. "Tijolos soltos no chão, areia e um vaivém de carrinhos de mão", citou mais uma. "O show de luzes não aconteceu ontem (sexta-feira). Ela passou 90% do tempo apagada. Fora o quanto é horrível você chegar a algo tão grandioso e dar de cara com aquele canteiro de obras cheio de entulho, terra, caminhões", comentou outra.
Pessoas que compraram a opção de cabine VIP (fechada para até 8 pessoas) também contam que parte das bebidas incluídas no ingresso, vendido por até R$ 420, estava em falta.
Com a situação, algumas pessoas que compraram ingresso antecipado desistiram de fazer o passeio. "Ficamos mais de três horas na fila. Iríamos esperar mais duas horas. Quando subimos as escadas, pensando que iríamos entrar nas cabines, tinha outra fila imensa, que iria demorar mais duas horas. Falaram apenas depois que subimos que a roda estava funcionando apenas com 30%", contou uma delas. "A fila super confusa, ninguém sabia nada direito e a demora absurda. Desisti, assim como várias pessoas na minha frente", contou mais uma visitante.
<b>Ingressos</b>
Os ingressos individuais custam a partir de R$ 50, com opção de meia-entrada a R$ 25, nos dias úteis. Nos fins de semana e feriados, a inteira parte de R$ 69,90 (até as 13h) e R$ 79,90 (a partir das 14h). Até esta quarta-feira, 14, as vagas estão esgotadas na plataforma online de venda, enquanto não há opções mais disponíveis em horários no fim de tarde em outras datas.
A roda-gigante funciona de terça a domingo, das 9h às 19h. Além do ingresso tradicional, também são comercializadas opções para cabine privativa, que comportam até oito pessoas, por valores de R$ 300 a R$ 350 (com bebidas), nos dias úteis, e R$ 370 a R$ 420, nos fins de semana e feriados. A venda inicial inclui entradas até 31 de janeiro, feita pela internet, na plataforma Sympla, e na bilheteria física.
A roda-gigante foi instalada após uma concorrência pública aberta em 2020 pelo governo de São Paulo. A permissão de uso é de até dez anos.
<b>O que diz a Roda Rico</b>
A Roda Rico foi procurada pela reportagem para se manifestar sobre as reclamações, mas não respondeu até a publicação da reportagem. Na semana passada, tinha se referido às obras no local como "ajustes finais" e negado que a inauguração é parcial, pois a única intervenção que estaria em falta era a instalação de todas luzes da roda-gigante. Também atribuiu os atrasos na inauguração a dificuldades logísticas impostas pela pandemia e à chuva registrada nas últimas semanas.
Nas redes sociais, a nova atração não fez novas publicações desde a inauguração. As reclamações referentes ao primeiro dia foram em parte respondidas, com uma explicação sobre a pane no ar condicionado, que teria sido resolvida. Porém, após novos problemas na refrigeração, não houve mais manifestação pública.