Alguns podem até entender que ainda é cedo para cobrar uma ocupação mais eficiente da nova rodoviária de Guarulhos, inaugurada festivamente há exato um mês. Conforme reportagem publicada nesta sexta-feira pelo Guarulhos Hoje, o empreendimento que recebeu investimentos de R$ 18,9 milhões, a maior parte proveniente do Governo Federal, conta apenas com duas linhas de ônibus intermunicipais que ligam Guarulhos a outros seis municípios de São Paulo. Santos, São Vicente e Praia Grande, no litoral sul, além dos “vizinhos” Mairiporã, Atibaia e Nazaré Paulista. Detalhe: essas ligações já existiam e partiam de outros pontos. Durante o período de inauguração, o prefeito Sebastião Almeida (PT) reconheceu publicamente que a rodoviária seria entregue à população ainda sem linhas. Argumentou que eram passos a serem dados. Primeiro concluímos o empreendimento, depois é hora de ir atrás das empresas que devem se interessar na operação na cidade. Essa tese não encontra ecos no setor privado e jamais poderia ser aceita quando envolve dinheiro público, afinal são recursos valiosos que poderiam ser melhores aplicados, inclusive no próprio setor de transportes. Nenhum shopping center, por exemplo, é primeiro construído para depois ser comercializado. Quando se decide pela obra, o empreendedor já tem certo o destino das lojas, caso contrário o empreendimento estará fadado ao fracasso. Vale lembrar que parte da rodoviária passou a ser usada, de forma precária, como terminal urbano, em mais uma evidente ação que demonstra ausência completa de planejamento. Existem outras regiões da cidade que precisam muito mais dos terminais urbanos do que o Cecap. Aliás, a menos de um quilômetro da rodoviária, o Governo do Estado está construindo um terminal metropolitano, em um local bem mais apropriado para realizar as interligações entre as linhas metropolitanas e as locais. Ou seja, utilizar a rodoviária como terminal urbano não é nem um pouco inteligente. Para piorar um pouco a situação, a rodoviária foi construída sem se pensar em acessos, que deveriam prever vias que facilitem o trânsito de ônibus de grande porte. A Prefeitura, em vez de promover uma ação conjunto com a União e o Estado, apenas definiu que este último deveria colaborar com a construção desses tais acessos, o que não ocorreu devido ao alto custo e por não haver recursos previstos para tanto. A rodoviária, apesar da proximidade com o Aeroporto, está ilhada, ao lado de um hospital e de conjuntos residenciais. Mas está lá bela e formosa, pronta para atrair empresas de ônibus que visam lucros e que só irão operar no local se tiver uma demanda comprovada. Não é demais lembrar que o ex-prefeito Elói Pietá (PT) instalou um terminal rodoviário às margens da Fernão Dias, que acabou fechada pouco tempo depois devido ao grande fracasso comercial. As empresas que se interessaram em operar ali desistiram em função da falta de passageiros. Na época, atribuiu-se esse desinteresse à precariedade nos acessos da população ao terminal. Agora, a Prefeitura acredita que será diferente. Então, é pagar R$ 18,9 milhões para ver.