Houve momentos em que Rodrigo Lombardi quis desistir de ser ator. Ele não “emplacava”, como se diz. E aí, em 2009 – há dez anos – estourou fazendo seu primeiro protagonista na Globo, na novela de Glória Perez, “Caminho das Índias”. Parece que foi ontem. Depois disso, tudo começou a dar certo. Teatro, seu primeiro amor, cinema e TV. Dez anos, apenas. Apenas? “São 24 anos de trajetória, meu amigo, e muitos momentos difíceis”, Lombardi avalia numa entrevista por telefone.
Pensava largar a interpretação para ser agente de viagens, mas sempre teve um amigo para lhe colocar pilha, Eduardo Tolentino, do Grupo Tapa. “O melhor diretor de teatro do Brasil”, diz. Com Tolentino, ultrapassou a arte de representar. Aprendeu a fazer som, a iluminar, a ser um homem completo de teatro. Até hoje, nos momentos duros, aconselha-se com Tolentino. Uma relação de confiança, amizade. Estreia nesta terça-feira, 16, na TV aberta, a nova temporada de “Carcereiros”, que está disponível (na íntegra) na GloboPlay. Recapitulando, a vida de Adriano tomou um rumo inesperado a partir de seu envolvimento com Erika, a personagem de Letícia Sabatella – bela e talentosa como sempre -, presa porque matou o companheiro.
Escolhas produzem consequências. Além da mudança no local de trabalho – o presídio Filinto Prates substitui a penitenciária Vila Rosário -, Adriano também precisa lidar com as outras mudanças, na vida privada. A filha adolescente, a ex-mulher, que está grávida, os problemas amorosos do pai. As fronteiras que separam a vida profissional da pessoal se embaralham. Adriano está enrolado na situação que criou. “Na primeira temporada, a penitenciária era uma personagem. Ajudava a definir quem era Adriano. Havia entrado no projeto meio às pressas, para substituir o Domingos (Montagner). Para a segunda temporada, participei de reuniões com roteiristas e diretores (sob o comando de José Eduardo Belmonte). Interagi com eles, contribuí. Então, além de já ter um conhecimento do personagem, acompanhei a gênese de tudo o que ia ocorrer. A instituição segue lá, mas o foco está no drama de Adriano e dos que o cercam. A vida desmorona, fica pouco estruturada. É outra dimensão, mais íntima. Tudo o que é humano me diz respeito, me interessa”, reflete Lombardi.
Ele terminou as gravações e embarcou na grande viagem de “Um Panorama Visto da Ponte”. Mergulhou de cabeça na montagem do texto clássico de Arthur Miller pelo diretor Zé Henrique de Paula. A peça foi escrita por Miller como uma resposta ao macarthismo, e à delação de seu amigo, o diretor Elia Kazan. O próprio Kazan tentou se explicar com um filme premiado – Oscars de filme, direção e ator, Marlon Brando, entre outros -, “Sindicato de Ladrões”. O macarthismo, a caça às bruxas (aos comunistas) na indústria, rachou a América no começo dos anos 1950. Reencenar O Panorama tinha tudo a ver com o momento de polarização que o Brasil vivia antes das eleições (e segue vivendo). Lombardi viveu intensamente o drama de Eddie, o protagonista de Miller, a mesma entrega que teve para Adriano. Ele, que adora as coxias das montagens de que participa – uma herança do Tapa -, não deixava de se emocionar quando ouvia o colega Sérgio Mamberti comentar , “Chegou o Eddie!” Lombardi ganhou elogios e indicações para prêmios importantes. Mamberti, então, viveu um momento raro de sua trajetória. Ganhou os chamados prêmios de carreira.
Para Lombardi, é um privilégio trabalhar com esses gigantes. “O Sérgio tem uma energia e um entusiasmo de menino, quando se trata de entrar em cena.” Ele sente o mesmo fervor em Othon Bastos, com quem contracena em “Carcereiros”. “É impossível não ser marcado pela convivência com esses caras.” Respeito aos mestres – a Tolentino. Admiração pelos novos talentos. Lombardi tem pronto para estrear um belo filme. Em “O Olho e a Faca”, de Paulo Sacramento, faz um homem que vive dilemas em terra e no mar (numa plataforma de extração de petróleo). O filme de 2017 está demorando todo esse tempo para chegar às salas. “O Paulo tem uma cabeça maluca, mas é outro que sabe o que faz. Para ele, o cenário é personagem como os atores.” O interessante é que a plataforma, simultaneamente, foi palco da série “Ilha de Ferro”, que terá mais duas temporadas. Com todo respeito pela trama criada por Adriana Lunardi e Max Mallmann, o filme é mais intenso, até mais erótico. Lombardi descansa, no momento. Tem uma participação especial, para fazer no novo filme de Vicente Amorim. No segundo semestre, pretende estudar teatro em Nova York – e garimpar novas peças para montar no Brasil. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.