Rodrigo Pessoa disputa, aos 51 anos, a sua oitava Olimpíada nos Jogos de Paris-2024. Ele supera o recorde brasileiro de participações, até então do velejador Robert Scheidt e da jogadora de futebol Formiga, com sete edições cada um. Entre conquistas e polêmicas, prevalece o ouro conquistado em Atenas-2004, com o cavalo Baloubet Du Rouet, morto em 2017.
A estreia em Paris seria nesta quinta-feira, nos saltos em equipes. Pessoa montaria Major Tom. Entretanto, o cavaleiro foi eliminado antes mesmo de poder fazer o percurso. Pedro Vennis foi o primeiro atleta da equipe brasileira e não sofreu punições. A espora, porém, machucou o cavalo Nimrod de Muze, o que eliminou o time inteiro.
Pessoa ainda tem uma chance em Paris, no salto individual. A etapa de classificação está prevista para 5 de agosto, no Palácio de Versalhes, a partir das 9h (de Brasília). Além do recorde brasileiro, a participação na capital francesa é especial por ser a cidade de nascença do jóquei. Ele nunca morou no Brasil, mas optou pela cidadania brasileira aos 18 anos.
O campeão olímpico começou a montar aos cinco anos. Quatro anos depois, ele participou do primeiro campeonato, na Inglaterra, na classe pônei. Nesta mesma categoria, conquistou o primeiro campeonato, na Bélgica.
A estreia de Pessoa em Jogos Olímpicos foi em Barcelona-1992, quando foi jóquei mais jovem da edição, competiu ao lado do pai, Nelson Pessoa, e ficou em 9º lugar na classificação individual. O ciclo seguinte foi de consolidação. Em 1995, ele foi ouro nos Jogos Pan-Americanos de Mar Del Plata. Um ano depois, fez sua segunda participação olímpica e levou o bronze nos saltos por equipes.
A FRUSTRAÇÃO DE SYDNEY-2000 E O TOPO EM ATENAS-2004
Rodrigo Pessoa vivia uma alta no final da década de 1990, após os títulos do Mundial de 1998, em Roma, e o bicampeonato da Copa do Mundo, entre 1998 e 1999 – viria ainda o tri, em 2000.
Além disso, ele montava o fenômeno Baloubet Du Rouet, considerado o melhor cavalo do mundo na época. A dupla era esperança de medalha de ouro em Sydney-2000. Soma-se a isso que todas as outras apostas de campeões brasileiros na Austrália haviam decepcionado.
A expectativa por um ouro no hipismo foi também frustrada. O verbo "refugar" se tornou parte do vocabulário brasileiro para definir a ação do cavalo Baloubet. Foram três tentativas de saltos, mas o animal não obedeceu. O esperado ouro não veio, e até mesmo o bronze conquistado por equipes teve gosto amargo. A delegação do Brasil ficou sem subir no topo do pódio, o que não acontecia desde Montreal-1976.
Na época, Pessoa atribuiu isso à distração e ao nervosismo do cavalo pelo vento. Em abril deste ano, foi lançado o documentário "Baloubet: drama e glória de um gladiador". No filme, o atleta mostrou outra fala, endereçada ao empresário português Diogo Pereira Coutinho, dono do animal. "O cavalo não tem culpa que o proprietário era um idiota", disparou.
O ciclo seguinte teve incertezas. Foi cogitado desfazer a parceria e que Pessoa fosse a Atenas com outro animal. Mas a dupla foi para a edição dos Jogos Olímpicos de 2004 e conquistou a prata. O ouro ficou com o cavaleiro irlandês Cian OConnor e o cavalo Waterford Cristal. "Espero que o povo brasileiro perdoe Baloubet", afirmou Pessoa, após a conquista. O animal havia virado uma chacota nacional desde Sydney.
Entretanto, sete meses depois dos Jogos de Atenas, a dupla campeã foi desqualificada por doping de Waterford Cristal. A prata de Pessoa e Baloubet virou ouro, finalmente. A medalha foi entregue ao atleta no Forte de Copacabana. Foi a primeira honraria olímpica concedida em solo brasileiro.
Baloubet competiu por mais dois anos até virar um cavalo reprodutor, "profissão" que exerceu até 2010. Ele deixou 96 filhos registrados em atividade na Associação Brasileira de Criadores de Cavalos de Hipismo e mais de 1.500 descendentes ao redor do mundo.
ALTA NO PAN DE 2007 E DOPING EM PEQUIM-2008
O cavaleiro fez parte do ouro por equipe nos Jogos Pan-Americanos de 2007, além de ter conquistado a prata, no individual. A Olimpíada seguinte, em Pequim, contudo, não correspondeu.
Rodrigo Pessoa e seu novo cavalo, Rufus, ficaram em quinto, mas o resultado foi desconsiderado após o animal ter testado positivo no antidoping para nonivamida. Pessoa recebeu uma suspensão de 135 dias e uma multa de 1.285 euros (R$ 7.733, na época).
PORTA-BANDEIRA EM LONDRES-2012 E DESISTÊNCIA DA RIO-2016
Isso não o tirou da edição seguinte, ou de conquistar a prata por equipe no Pan de Guadalajara, um ano antes. Em Londres-2012, Rodrigo Pessoa foi escolhido como porta-bandeira da delegação brasileira na cerimônia de abertura. Nessa altura da carreira, ele já havia se consolidado como maior campeão do hipismo no Prêmio Brasil Olímpico, com sete conquistas (1999, 2000, 2004, 2005, 2009 e 2010).
Novamente, porém, não teve um grande desempenho. Apesar de ter conseguido um primeiro lugar na primeira rodada de qualificação do salto individual, não repetiu a performance.
Na Rio-2016, Pessoa chocou ao preferir desistir da participação a ser reserva da equipe. O técnico George Morris argumentou que a égua de Rodrigo não estava nas mesmas condições que as dos demais cavaleiros, o que não agradou o atleta. "O único lugar em que não posso contribuir é na reserva", desabafou na época. Em nenhuma das provas, o Brasil chegou ao pódio.
RETORNO EM TÓQUIO E RECORDE EM PARIS
Em 2021, Rodrigo Pessoa foi para o Japão com o cavalo Carlitos Way 6. Novamente, o cavaleiro enfrentou um animal que refugou. A experiência, desta vez, foi não insistir. Ele garantiu a classificação à final, mas desistiu de participar. "Para mim Tóquio acaba aqui. O meu cavalo não está em condições de ajudar a equipe", avaliou na época.
A convocação a Paris foi precedida por um bronze por equipe no Pan de Santiago, em 2023.