“Gladiadores não morriam a torto e a direito, não!”, proclama Janet, envolta numa túnica branca e vermelha. Altiva em seu um metro e sessenta e poucos, parece uma sacerdotisa, não fossem os bastões ultramodernos de caminhada que carrega na mão esquerda. Estamos diante de uma guia a caráter apontando o anfiteatro de Avenches, arena ao ar livre que abrigou lutadores e feras no tempo em que Avenches era Aventicum, capital da Helvécia romana. Isso foi há 2 mil anos, quando uma portentosa população de 25 mil habitantes circulava por ali.
Os gladiadores, explica Janet, eram “peças” valiosas. A morte de um implicava prejuízo considerável para seu proprietário – donde mais se matavam bichos animais que bicho homem por ali. Russell Crowe talvez tivesse sido poupado naquela arena.
O anfiteatro foi construído em duas etapas: a primeira no ano 130, e a segunda em 165. Sustentava bem um público de 16 mil pessoas, mas aos poucos a capital caiu em decadência e, no século 4.º, o anfiteatro foi depenado. Muito da sua estrutura virou material de construção. No século 11 o bispo de Lausanne deu uma reavivada no local, construindo inclusive uma torre na entrada, que hoje abriga um museu.
Você pode andar pela arena vazia, mas este coliseu de proporções suíças não perdeu a majestade. Aliás, nada a ver com o coliseu romano. O anfiteatro de Avenches não tem subsolo, por exemplo. Mas na sua superfície muita gente se junta para ver dois megashows tradicionais durante o verão: um de rock (Rock OzArènes), outro de ópera (Festival Avenches Opéra). No outono, mais exatamente em três dias de setembro, acontece uma parada militar com bandas e fanfarras do mundo todo, cerca de 500 músicos, chamada de Avenches Tattoo. Dura exatas duas horas. A vista das apresentações é panorâmica e a acústica, perfeita. Os ingressos para o Tattoo desse ano (1.º a 3 de setembro) já estão à venda no site avenchestattoo.ch; o mais barato sai por 50 francos suíços (R$ 203). Para quem deseja o trono vip do imperador, a entrada tem peso de ouro: 150 francos (R$ 609).
Entre antiguidades, mosaicos e relíquias do período romano, um busto no vil metal é a grande atração do museu na torre. Trata-se de Marcus Aurelius. A guia diz que apenas três imperadores tiveram bustos moldados em ouro. Ali está um. Ou estava. Janet confessa que a escultura é uma réplica. O busto original reside em Lausanne, “em segurança”. Suíços preocupados com segurança… Pensei na Taça Jules Rimet, nome de um dos criadores da Fifa, cuja sede fica na Suíça. Rimet foi absoluto no poder da federação por 33 anos.
Partindo do museu segue-se um tour pelas ruínas romanas, que envolvem um teatro, termas, um portal e a soberana Tornallaz, a única coluna em pé das 13 que cercavam o local. Perto dos vestígios há sempre um plaqueta mostrando o esboço de como seria aquele lugar sob a era romana, que durou de 50 antes de Cristo a 400 depois. Parecia fabuloso. Continua especial. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.