A escrita de Ariano Suassuna continuará provocando prazer ainda por muito tempo. Não apenas pela perenidade de suas obras-primas como Auto da Compadecida e O Romance dA Pedra do Reino, que acaba de ganhar uma reedição, mas também pelos textos inéditos que estão por vir – é esperado para 9 de outubro o lançamento da última obra escrita pelo autor paraibano, O Romance de Dom Pantero no Palco dos Pecadores, sob a chancela da Nova Fronteira, atual editora de seus livros, que deverão ser relançados.
Trata-se da obra sobre a qual Suassuna se debruçou nos últimos anos de vida, reescrevendo constantemente e cuidando também das ilustrações. Inicialmente previsto para quatro volumes, o romance terminou com dois (O Jumento Sedutor e O Palhaço Tetrafônico) e oferece uma reavaliação muito particular da própria obra a partir da narrativa de Dom Pantero, cujo nome verdadeiro é Antero Savreda.
Escritor frustrado, Pantero (ou Savreda) tem a ambição de conquistar a glória literária a partir da obra bem-sucedida de seus irmãos, muito mais conhecidos: o romancista Auro Shapino, o poeta Altinho Soares e o dramaturgo Adriel Soares.
Note-se que todos os nomes dos irmãos começam com as letras A e S, ou seja, despontam como heterônimos mal disfarçados de Ariano Suassuna. Pantero ministra também o que chama de “aulas espetaculosas”, algo semelhante às deliciosas aulas-espetáculo que Ariano concedeu por todo o País enquanto teve forças, alcançando um enorme sucesso.
Enquanto escrevia, Suassuna acreditava que os leitores podiam não gostar da nova obra. “É por causa da minha escrita, cheia de rudeza, digressões, venho por aqui, vou por ali”, disse ele à reportagem, em 2011. “Houve um tempo em que as pessoas reclamavam porque eu não escrevia como Graciliano Ramos ou Guimarães Rosa. Tenho minha personalidade, sou incapaz da concisão. Preciso de horizontes mais amplos.”
Isso também justificava sua predileção pelo teatro, gênero do qual Ariano deixou várias peças inéditas em seus arquivos e que também serão lançadas futuramente pela Nova Fronteira. São, ao menos, cinco textos dramatúrgicos, dos quais o mais antigo data de 1950. Trata-se de O Auto de João de Cruz, que adapta tanto o clássico Fausto, de Goethe, como o cordel A História do Estudante Que Vendeu a Alma ao Diabo.
A peça promove uma ligação com o Auto da Padecida, especialmente na cena em que João, ainda vivíssimo, vai ao local onde são julgados os mortos. O texto recebeu apenas uma montagem, amadora, em 1958, no Recife.
O material – que vem sendo organizado pelo filho do escritor, o artista plástico Manuel Dantas Suassuna, pelo pesquisador e grande amigo de Ariano, Carlos Newton Jr., e pelo designer Ricardo Gouveia de Melo – traz ainda outras peças, como O Arco Desolado, 1952, inspirada em A Vida É Um Sonho, de Calderón de la Barca e que, fato raro, não se passa no sertão.
O acervo inclui também obras recentes como As Conchambranças de Quaderna, de 1987, e A História de Amor de Romeu e Julieta, de 1996. “Desde muito jovem, não gosto de peças intimistas e psicológicas – sempre preferi algo mais próximo das artes do espetáculo, pois dou preferência à face mais circense do teatro”, disse Ariano, em 2011.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.