Um restaurante oriental discreto, com 20 anos de história no Bom Retiro, no centro de São Paulo, foi invadido por três criminosos na hora do jantar nesta terça-feira, 19. Clientes e funcionários foram feitos reféns e amarrados na cozinha – nove, no total. Após a ação de um vizinho, que é atirador esportivo, e dos policiais, um criminoso morreu. Depois de quase duas horas de terror, os reféns foram liberados sem ferimentos.
Por volta das 18h40, três homens entraram em um restaurante coreano na rua Clemente de Almeida Moura, uma travessa sem saída da rua Prates. Usando máscaras pretas, os criminosos renderam o proprietário de 77 anos, dois funcionários, que estavam lavando pratos, e a única família que jantava no local – um casal, a filha de quatro anos e a avó.
Todos foram levados para a cozinha, amarrados aos pares com elástico do tipo "enforca-gato" e sentados à força no chão. A criança chorava e tremia de medo. Os bandidos exigiam que todos só olhassem para o chão. Além do terror da situação, os nove reféns não entendiam bem o que deveriam fazer por causa do idioma – a família é coreana e os funcionários, paraguaios.
Os homens se comunicavam com um quarto elemento da quadrilha por meio de fones de ouvido conectados aos celulares. Eles trocavam informações sobre o que acontecia dentro e fora. Em busca de mais dinheiro, eles levaram o dono para sua casa, na sobreloja. Sabiam que ele guardava dinheiro em casa. Conseguiam R$ 6,4 mil e U$S 120 dólares.
A movimentação chamou a atenção dos vizinhos, que acionaram a polícia. Um atirador esportivo que vive ao lado do restaurante decidiu agir por conta própria. Armado, ele se dirigiu ao restaurante, mas foi impedido pelos bandidos. Houve troca de tiros. Portador do registro CAC (Caçador, Atirador e Colecionador), o vizinho atingiu dois bandidos; outro fugiu.
Um quarto criminoso permanecia dentro do restaurante. Nervoso por não receber mais respostas dos comparsas, tentou fugir pelo telhado. Não conseguiu. Com a chegada da polícia, o invasor manteve a arma apontava para a cabeça do proprietário, idoso. Como o chão estava molhado, ele se desequilibrou e deu um tiro que passou de raspão no queixo da vítima. O dono de restaurante está bem.
A presença da polícia intimidou o bandido. Ele dizia que não queria morrer e não queria matar ninguém. Aos poucos, começou a liberar os nove reféns. Nos últimos, ele pediu a presença da mulher e foi atendido. Após cerca de duas horas de negociações, o criminoso jogou a arma no meio do restaurante, libertou a vítima e se entregou.
Vizinhos em estado de choque no Bom Retiro
Vizinhos estão em choque desde a noite do crime e não quiseram falar sobre o assalto. Dizem que nunca haviam presenciado ação tão violenta. O local, uma viela pouco movimentada, foi cercado pela polícia e pelo Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) e a rua permanece bloqueada. Comerciantes contam que entraram nos estabelecimentos assim que ouviram os disparos no início da noite.
Os sinais da troca de tiros ainda estão na rua pacata, distante dos locais mais movimentados do bairro tradicional do centro. O carro do dono do restaurante estava com o vidro traseiro destruído e o pneu furado por conta dos disparos. Pela manhã, existiam roupas manchadas de sangue.
A Secretaria de Segurança Pública confirmou que dois homens, 51 e 53 anos, foram autuados em flagrante. Um dos baleados, de 37 anos, foi socorrido pela Unidade de Resgate ao Pronto Socorro do Hospital Barra Funda, onde morreu. E o outro, de 53, foi levado para a Santa Casa, onde permanece internado.
As armas dos assaltantes, bem como a do homem que reagiu e outros objetos envolvidos na ocorrência, foram apreendidas para perícia técnica. O caso foi registrado como roubo, legítima defesa, homicídio e posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito no 2º Distrito Policial.