Estadão

Rússia bombardeia cidades-chave na Ucrânia e Ocidente prepara novas sanções

O Exército russo atacou cidades importantes na Ucrânia nesta quarta-feira, 6, enquanto o presidente Volodmir Zelensky cobrou ao Ocidente novas sanções contra a Rússia em resposta aos assassinatos de civis, vistos como crimes de guerra. Os ataques foram feitos nas regiões de Mikolaiv, Dnipropetrovsk e Luhansk, no sul e no leste da Ucrânia, contra depósitos de combustíveis que serviam para abastecer as forças ucranianas. Pelo menos uma pessoa morreu e cinco ficaram feridas, dizem as autoridades.

Além desses ataques, militares ucranianos afirmaram que interceptaram dois mísseis russos próximos a cidade de Lviv, no leste. A cidade de Kharkiv, no nordeste, a segunda maior do país, também continua sob ataque, disse o governador da região.

Com exceção de Kharkiv, todas as cidades atacadas nas últimas horas ficam localizadas em regiões próximas a Donbas, onde a Rússia passou a focar as ofensivas após tentativas fracassadas de tomar o poder de Kiev. As tropas terrestres se aproximam da região, e a Ucrânia afirma que se prepara para os ataques. Autoridades da região de Luhansk pediram nesta quarta-feira que os moradores saiam "enquanto é seguro".

Em paralelo, o cenário de guerra em outras regiões começa a ser revelado com a saída das tropas russas – como a descoberta de mais de 400 civis mortos em Bucha, subúrbio de Kiev. O presidente Volodmir Zelensky afirmou que civis foram torturados, baleados na nuca, derrubados em poços, explodidos com granadas e esmagados por tanques enquanto estavam em carros. Nesta terça-feira, 5, ele afirmou ao Conselho de Segurança (CS) da ONU que os responsáveis devem ser acusados de crimes de guerra diante de um tribunal como o estabelecido em Nuremberg na 2ª Guerra para julgar os nazistas.

Moscou, que se refere ao conflito como uma "operação militar especial" destinada a desmilitarizar a Ucrânia, negou que alvejasse civis no país e classificou as evidências apresentadas como uma falsificação encenada pelo Ocidente para tirar a credibilidade da Rússia.

As descobertas de civis mortos levou o presidente ucraniano a cobrar novas sanções do Ocidente "de forma mais rígida". "Quando estamos ouvindo uma nova retórica sobre sanções (…) não posso tolerar nenhuma indecisão depois de tudo o que as tropas russas fizeram", disse Zelensky a parlamentares irlandeses em uma videochamada.

Até o momento, a resposta do Ocidente foi expulsar dezenas de diplomatas de Moscou, mas mais sanções devem ser lançadas nesta quarta-feira após reuniões da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), do G-7 e de diplomatas da União Europeia (UE).

As medidas incluirão a proibição de todos os novos investimentos na Rússia, segundo afirmou um alto funcionário do governo dos EUA à agência <i>Associated Press</i>, sob condição de anonimato para discutir o próximo anúncio.

Enquanto isso, o poder executivo da UE propôs a proibição das importações de carvão da Rússia, no valor estimado de 4 bilhões de euros (US$ 4,4 bilhões) por ano. Seria a primeira vez que o bloco de 27 nações sancionaria a indústria de energia russa durante a guerra, embora possa parar de cortar as exportações de petróleo e gás da Rússia para a Europa.

Segundo a chefe da UE, Ursula von der Leyen, novas sanções devem ser aplicadas em breve. "Essas sanções não serão nossas últimas sanções", disse ela ao Parlamento Europeu nesta quarta. "Agora temos que analisar o petróleo e as receitas que a Rússia obtém dos combustíveis fósseis."

Para Zelensky, as sanções ocidentais devem ir muito mais longe. "Depois das coisas que o mundo viu em Bucha, as sanções contra a Rússia devem ser proporcionais à gravidade dos crimes de guerra cometidos pelos invasores", disse ele em seu discurso noturno nesta terça-feira.

Ainda segundo o presidente ucraniano, os líderes ocidentais serão julgados com severidade "se depois disso, os bancos russos puderem funcionar normalmente; se depois disso, as mercadorias puderem fluir para a Rússia como de costume; se depois disso, os países da União Europeia vierem a pagar à Rússia pela energia como de costume."

<b>Mariupol</b>

Na cidade portuária de Mariupol, bombardeada desde o início da invasão, no dia 24 de fevereiro, cerca de 160 mil civis permanecem no município sem conseguir sair, de acordo com a inteligência britânica. Eles estão sem comida, água e energia.

Segundo a primeira-ministra da Ucrânia, Irina Vereshchuk, as pessoas que tentarem fugir de Mariupol precisam usar seus próprios veículos. A Ucrânia tenta instalar corredores humanitários e enviar ajuda para o local, mas fracassou em todas as tentativas.

Desde a última sexta-feira, dia 1º de abril, um comboio com suprimentos do Comitê Internacional da Cruz Vermelha tenta chegar na cidade, mas não consegue. O último obstáculo aconteceu na segunda-feira, quando a equipe foi detida em Manhush, nos arredores de Mariupol. Eles só foram liberados na noite da segunda, segundo a equipe.

Autoridades ucranianas e britânicas acusam as forças russas de impedirem deliberadamente o acesso humanitário à Mariupol, "provavelmente pressionando os defensores a se renderem". (Com agências internacionais).

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