Estadão

Rússia condiciona liberação de grãos da Ucrânia a alívio de sanções

Enfrentando acusações de "chantagem" do Ocidente por confiscar toneladas de grãos na Ucrânia, a Rússia indicou que está pronta para criar um "corredor humanitário" no Mar Negro para escoamento da produção ucraniana em troca do alívio de algumas sanções contra Moscou, evitando um cenário de escassez alimentar no mercado internacional.

O Kremlin estaria disposto a conceder um "salvo-conduto" para que embarcações de transporte de alimento deixem a Ucrânia, desde que o Ocidente levante algumas das sanções impostas desde o começo da guerra, em 24 de fevereiro, afirmou o vice-chanceler russo, Andrei Rudenko, citado pela agência de notícias Interfax.

"Temos repetidamente insistido neste ponto, que uma solução para o problema alimentar requer uma abordagem abrangente, incluindo o levantamento das sanções que foram impostas às exportações e transações financeiras russas", disse Rudenko.

Durante a semana, líderes ocidentais acusaram a Rússia de uma ação deliberada na Ucrânia para pressionar os preços internacionais por meio de uma redução da oferta de trigo e óleo de girassol. A Ucrânia é um importante fornecedor dos gêneros alimentícios no mercado internacional.

<b>Pressão</b>

Na terça-feira, 24, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que a Rússia está incrementando suas exportações de alimentos e retendo suprimentos produzidos pela Ucrânia, para aumentar os preços globais ou negociando trigo em troca de apoio político.

Um relatório de inteligência dos EUA, revelado recentemente, afirma que um bloqueio naval russo interrompeu o comércio marítimo nos portos ucranianos. Apesar das afirmações de Rudenko sobre o corredor humanitário, Moscou não admite que sua atuação tenha bloqueado o escoamento de grãos.

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, culpou o Ocidente pela crise. "Nós categoricamente não aceitamos essas acusações. Pelo contrário, nós culpamos os países ocidentais pelas ações que levaram a isso", disse.

Ainda de acordo com a Interfax, Rudenko também afirmou que Moscou exige a retirada de minas colocadas pela Ucrânia nos portos onde os navios estão ancorados, acrescentando que a Rússia mantém um diálogo aberto com a ONU.

Um funcionário da diplomacia turca revelou ontem que Turquia e Rússia estão em negociações sobre a abertura de um corredor humanitário. O governo turco regula o trânsito de navios de guerra através dos estreitos do Bósforo e de Dardanelos, que conectam os mares Negro e Egeu, e acionou a Convenção de Montreux quatro dias depois que a Rússia invadiu a Ucrânia, impedindo Moscou de levar mais navios ao Mar Negro.

<b>Negociações</b>

A Rússia, no entanto, contornou o acordo usando navios mercantes – que não são proibidos nas vias navegáveis – para abastecer as operações militares na Ucrânia, segundo o The Middle East Institute, um centro de estudos apartidário em Washington.

"A Turquia está negociando com Rússia e Ucrânia a exportação de grãos ucranianos", disse o funcionário turco, pedindo anonimato. "Com um corredor a ser aberto a partir da Turquia, há uma demanda para que esses grãos cheguem aos mercados-chave. As negociações ainda estão em andamento."

Com a guerra entrando em seu quarto mês, os líderes mundiais intensificaram as negociações por soluções. O diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Ngozi Okonjo-Iweala, disse que 25 milhões de toneladas de grãos ucranianos estão armazenados e outros 25 milhões de toneladas podem ser colhidos no próximo mês.

Os países europeus tentaram aliviar a crise transportando grãos para fora da Ucrânia por trens, que são capazes de transportar apenas uma pequena fração do que a Ucrânia produz.

Respondendo sobre a condição imposta pela Rússia para a criação do corredor humanitário, a chanceler do Reino Unido, Liz Truss, acusou o presidente russo, Vladimir Putin, de pedir "um resgate ao mundo por comida".

"É completamente espantoso que Putin esteja tentando manter o mundo refém, e ele está essencialmente ampliando a fome e a falta de comida entre as pessoas mais pobres do mundo", afirmou. "Simplesmente não podemos permitir que isso aconteça." (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS).

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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