Estadão

Rússia e Ucrânia Se acusam de tramar sabotagem em usina nuclear

Russos e ucranianos acusaram-se ontem de tramar uma ação militar contra a usina nuclear de Zaporizhzia, a maior da Europa. O governo da Ucrânia disse que a Rússia, que ocupa as instalações desde 2022, espalhou explosivos no teto das unidades de energia. Já o porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov, afirmou que suas tropas foram obrigadas a tomar medidas para evitar uma "sabotagem", sem dar detalhes.

A usina de Zaporizhzia tem sido foco de preocupação desde o início da guerra. O chefe da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, emitiu vários alertas sobre as chances de desastre, alguns evolvendo bombardeios ao redor das instalações, outros ligados à incapacidade de resfriar os reatores.

O risco de um desastre apavora os moradores da região, que temem que Zaporizhzia seja uma nova Chernobyl – usina ucraniana que explodiu em 1986. Nadiia Hez, que vive em Tomakivka, região que seria contaminada por qualquer acidente radioativo, guarda pílulas de iodo para mitigar os efeitos da radiação. "É horrível. Não quero nem pensar nisso", afirmou.

<b>Alerta</b>

Na semana passada, o ministro do Interior ucraniano, Ihor Klimenko, anunciou exercícios para lidar com a possibilidade de um desastre nuclear. O treinamento incluiu retirada, interdições de estradas e criação de postos de controle para testar o nível de radiação nas pessoas.

Quem não conseguir fugir a tempo, o recomendado é buscar abrigo onde der, selando janelas e dutos de ventilação com roupas úmidas, fita adesiva e desligando aparelhos de ar-condicionado. Quando estiverem fora de casa, as pessoas devem usar máscaras para filtrar poeira radioativa.

<b>Riscos</b>

Construída nos anos 80, na era soviética, Zaporizhzia dependia da água do reservatório de Kakhovka para resfriar seus reatores – a represa foi destruída no mês passado. Em 24 de junho, o nível de água estava em 16 metros, apenas 4 acima no mínimo necessário para resfriar a usina, segundo Olena Pareniuk, da Academia Nacional de Ciências da Ucrânia.

O resfriamento está sendo feito com a água de um canal de descarga de uma termoelétrica e um sistema de drenagem de águas subterrâneas. Sem água, demoraria de 10 horas a duas semanas para os reatores derreterem, segundo especialistas.

Outra preocupação é a falta de braço. Apenas 3 mil dos 11 mil funcionários da usina permanecem para coordenar suas operações, o que mal dá para manter a central segura durante uma emergência. Especialistas, porém, afirmam ser improvável algo parecido com Chernobyl. Pareniuk diz que o pior cenário seria um desastre como o de Fukushima, em 2011, quando três reatores da usina japonesa derreteram após um terremoto seguido de tsunami.

Se algo ocorrer em Zaporizhzia, uma nuvem radioativa se espalharia pela Ucrânia, contaminando a região agrícola e, provavelmente, os vizinhos europeus, com partículas que aumentam os riscos de certos tipos de câncer. A contaminação poder alcançar o Rio Dnieper e chegar ao Mar Negro, atingindo todos os países costeiros.

"É um filme de horror", disse a enfermeira Vita Liashenko, em uma fila para buscar água potável em Tomakivka. Ela também tem em casa pílulas de iodo, água armazenada e fita adesiva para selar as janelas no caso de acidente. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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