A Europa se movimentou nesta segunda-feira, 16, na direção de um endurecimento em relação à invasão russa à Ucrânia, com a Suécia juntando-se à Finlândia na busca da adesão à Otan e autoridades da União Europeia trabalhando para resgatar propostas de sanções sobre o petróleo russo.
No campo de batalha, as tropas ucranianas resistiram a tentativas de avanços russos e até os fizeram recuar em certas regiões. Nos dias recentes, forças de Moscou retiraram-se do entorno da cidade de Kharkiv, no nordeste ucraniano, depois de bombardeá-la por semanas.
Também nesta segunda-feira, um lampejo de esperança emergiu para os soldados ucranianos feridos que ficaram presos sob os escombros de uma gigantesca siderúrgica bombardeada, o último bastião de resistência na cidade portuária de Mariupol. O Ministério da Defesa russo anunciou um acordo para os feridos deixarem o complexo industrial para receber tratamento médico em uma cidade controlada por separatistas pró-Moscou.
Não houve nenhuma confirmação imediata pelo lado ucraniano, e não houve nenhuma menção sobre a possibilidade de os feridos serem considerados prisioneiros de guerra. Tampouco ficou claro quantos combatentes seriam retirados.
À medida que os combates castigam o leste da Ucrânia, a resposta internacional ao ataque russo continua a ganhar tração. A Suécia anunciou que solicitará adesão à Otan, em seguida à decisão similar de sua vizinha Finlândia. Isso representaria uma reviravolta histórica no continente europeu: ambos os países adotam posições de não alinhamento há gerações.
O presidente russo, Vladimir Putin, que qualificou a invasão como um esforço para impedir a expansão da Otan, mas que agora percebe que sua estratégia está saindo pela culatra, alertou que um fortalecimento militar nos territórios desses países "certamente motivará uma reação em resposta".
O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, afirmou que os processos de adesão da Finlândia e da Suécia serão bem rápidos, apesar de a Turquia, que é membro da aliança, ter expressado reservas em relação à manobra.
A primeira-ministra sueca, Magdalena Andersson, afirmou que a aliança militar de 30 membros é a melhor defesa para seu país em face ao comportamento da Rússia.
"Infelizmente, não temos nenhum motivo para crer que a tendência (das ações russas) se reverterá no futuro próximo", afirmou ela.
A Europa também está trabalhando para sufocar o financiamento de guerra do Kremlin, reduzindo em bilhões de dólares suas importações de energia da Rússia.
Mas a proposta de embargo da UE sobre as importações de petróleo russo enfrenta oposição de um pequeno grupo de países liderado pela Hungria, que é um entre vários países sem costa marítima e altamente dependentes dessas importações, juntamente com República Checa e Eslováquia. A Bulgária também tem reservas.
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"Faremos nosso melhor para desbloquear a situação", afirmou o chefe de política externa da UE, Josep Borrell. "Não posso garantir que isso irá acontecer, porque as posições são bastante fortes."
A Rússia tem enfrentado uma série de reveses na guerra, de maneira mais evidente em seu fracasso em tomar Kiev, a capital, nos estágios iniciais da invasão. Desde então, a maioria dos combates tem ocorrido no Donbas, região industrial da Ucrânia no leste do país, mas esse esforço também se provou um trabalho fatigante.
Ambos os lados têm lutado vilarejo a vilarejo. As forças ucranianas têm sobrepujado os russos, mas também sofrem derrotas.
"As chances, penso eu, de um rápido sucesso russo desapareceram", afirmou Chris Tuck, especialista em guerra terrestre da Kings College, de Londres. "A capacidade da Rússia para operações ofensivas sangrará. ( ) Simplesmente não acho que deveremos ver qualquer grande avanço russo."
O número de mortes, já na casa dos muitos milhares, continua a aumentar.
Na região de Luhansk, no Donbas, ataques noturnos atingiram um hospital em Severodonetsk, deixando dois mortos e nove feridos, incluindo uma criança, afirmou o comando militar regional. Ataques noturnos também atingiram outras cidades. O governador militar regional, Serhiy Haidai, afirmou que forças especiais ucranianas explodiram pontes ferroviárias controladas pelos russos para tentar diminuir os avanços do inimigo.
Ao longo de outra faixa da fronteira com a Rússia, guardas fronteiriços afirmaram que impediram uma tentativa dos russos, na manhã desta segunda-feira, de enviar para a Ucrânia tropas de sabotagem e reconhecimento para a região de Sumi, no norte do país. (tradução de Guilherme Russo)