A Rússia garantiu nesta quarta, 15, que tentará colocar as mãos nos destroços do drone americano que caiu no Mar Negro, na terça-feira, 14, após um choque com um caça russo. Além do acesso a tecnologia sensível, os russos querem mostrar que os EUA estão mais envolvidos do que dizem na guerra da Ucrânia.
Mas os destroços podem estar em águas tão profundas que talvez não seja possível recuperá-los. "Não sei se podemos recuperá-lo ou não, mas certamente tentaremos", disse Nikolai Patrushev, secretário do Conselho de Segurança da Rússia.
Serguei Naryshkin, chefe do serviço de inteligência da Rússia, disse que o país tem capacidade tecnológica para retirar os destroços do drone do fundo do mar. Acredita-se que o local do impacto esteja em águas internacionais, perto do litoral da Crimeia, onde a Rússia estabeleceu bases navais e aéreas.
Já os EUA ficaram na defensiva. O Pentágono se recusou a dizer se tentaria recuperar o drone, usado tanto para vigilância quanto para ataques. O MQ-9 Reaper está equipado com sensores ultramodernos para operações de vigilância a uma velocidade de cruzeiro de 335 km/h.
Desde o início da invasão da Ucrânia, a Turquia barrou o acesso de navios de guerra pelos estreitos de Bósforo e Dardanelos e a Marinha dos EUA não tem nenhuma embarcação no Mar Negro. Segundo John Kirby, porta-voz do Pentágono, os destroços podem não ser recuperáveis.
"Não tenho certeza se conseguiremos recuperá-los", disse Kirby à CNN. "No local onde ele caiu, as águas são muito profundas. Portanto, ainda estamos avaliando se pode haver algum tipo de resgate.
<b>Acusações</b>
Ucrânia acusou ontem a Rússia de provocar a queda do drone e tentar "expandir" o conflito para outros países. A queda da aeronave americana, um modelo MQ-9 Reaper, aumentou a tensão entre Moscou e Washington – foi o primeiro incidente direto envolvendo as duas potências desde o início da invasão russa, há um ano.
"O incidente provocado pela Rússia no Mar Negro é um sinal de que Vladimir Putin está disposto a expandir a zona de conflito e envolver outras partes", afirmou no Twitter o secretário do Conselho de Segurança ucraniano, Oleksii Danilov. "O Mar Negro não é um mar interno da Rússia", disse Yurii Ihnat, porta-voz da Força Aérea da Ucrânia.
<b>Diplomacia</b>
Os EUA culparam a Rússia pelo incidente e chamaram a ação dos caças russos de "imprudente" e "pouco profissional". Moscou não só negou qualquer irregularidade como pediu ontem o fim dos voos militares perto de seu território. O embaixador russo em Washington, Anatoli Antonov, chamou as ações militares dos EUA de "inaceitáveis".
Antonov, que foi convocado para consultas pelo governo americano, disse que Moscou "considera qualquer ação envolvendo o uso de armas e equipamentos militares americanos perto de seu território como abertamente hostis". "Esperamos que os EUA se abstenham de especulações na imprensa e interrompam os voos perto das fronteiras russas", escreveu o embaixador no Telegram.
Os americanos ignoraram as ameaças. O secretário de Defesa, Lloyd Austin, disse ontem que os EUA continuarão a realizar voos de vigilância no Mar Negro. "Não se engane, continuaremos a voar e operar onde quer que a lei internacional permita", disse o chefe do Pentágono.
Um sinal da tensão entre os dois países foi o telefonema de Austin para o secretário de Defesa da Rússia, Serguei Shoigu. A pressa em fazer a ligação foi considerada por analistas como uma tentativa dos EUA de agir rapidamente para evitar que o incidente levasse a uma escalada nas tensões entre as duas superpotências.
Austin disse que ligou para esclarecer as coisas. Ele não disse se Shoigu repetiu a versão da Rússia, de que seu caça não atingiu o drone americano, mas reconheceu que a conversa foi importante em razão da crise causada pela queda da aeronave.
<b>Narrativa</b>
Na terça-feira, um drone MQ-9 Reaper que sobrevoava o Mar Negro foi interceptado por dois caças russos Su-27 – um deles causou o acidente. "Várias vezes antes da colisão, os Su-27 despejaram combustível e voaram na frente do MQ-9 de maneira imprudente", disse a Força Aérea americana, em comunicado.
Um alto oficial dos EUA afirmou ao <i>The New York Times</i> que o drone decolou de sua base na Romênia para uma missão de reconhecimento, que normalmente dura 10 horas. Segundo a mesma fonte, embora os Reapers possam transportar mísseis Hellfire, a aeronave não carregava armas e voava a 120 km da Crimeia.
Moscou admite que enviou caças para interceptar o drone, que estaria avançando em direção à fronteira russa. "Após uma manobra abrupta, o drone perdeu altitude e colidiu com a superfície da água", disse o Ministério da Defesa da Rússia, perto da Península da Crimeia, região ucraniana anexada pela Rússia em 2014.
<b>Moscou quer recrutar 400 mil novos soldados</b>
O Ministério da Defesa da Rússia iniciará a partir de 1.º de abril uma nova campanha para recrutar 400 mil soldados para o Exército russo, informou ontem a Rádio Svoboda, citando vários meios de comunicação regionais. De acordo com a rádio, o Kremlin já enviou ordens às regiões indicando o número de pessoas que devem ser convocadas.
A Rádio Svoboda indicou que a maior parte do trabalho será realizada por escritórios de alistamento militar, e os governadores serão os responsáveis pela implementação do plano. Também foi relatado que 10 mil pessoas devem ser recrutadas nos Estados de Chelyabinsk e Sverdlovsk da Federação Russa, e mais 9 mil em Perm Krai.
Os escritórios russos de recrutamento militar estão tentando compensar suas perdas de soldados especializados, como motoristas de tanques e artilheiros, segundo o canal Vyorstka. O Kremlin nega estar planejando uma segunda onda de mobilização.
Segundo dados oficiais, mais de 330 mil reservistas russos foram convocados para o serviço militar como parte da "mobilização parcial" desde setembro. Em janeiro, o Ministério da Defesa anunciou o objetivo de ampliar as tropas russas para 1,5 milhão em três anos. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>