O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse nesta terça-feira, 2, que a interrupção dos cortes de juros se deve mais a "ruídos" do que a fundamentos econômicos. Entre esses ruídos que afetam a economia, ele citou as incertezas sobre a autonomia do BC com a sucessão no comando da autoridade monetária (o mandato de Campos termina em dezembro) e o risco fiscal.
O chefe do BC brasileiro, que participou de um painel em fórum realizado pelo Banco Central Europeu (BCE), em Portugal – que contou com a presença dos presidentes da autoridade monetária da Zona do Euro, Christine Lagarde, e do Federal Reserve (o banco central dos EUA), Jerome Powell -, voltou a afirmar que faz um trabalho técnico.
Ele lembrou ainda que a autoridade monetária, sob o seu comando, fez o maior aumento de juros em um ano eleitoral da história do mundo emergente. O Banco Central aumentou a Selic de 2%, no início de 2021, para 13,75% em agosto de 2022, ano em que Lula foi eleito. Nesse intervalo, a inflação acumulada em 12 meses saiu de 4,56%, em janeiro de 2021, para um pico de 12,13% em abril de 2022.
Ao fim daquele ano, a Selic estava em 13,75%, e a inflação, em 5,79%. Hoje, a Selic está em 10,50% ao ano, e a leitura mais recente de inflação, referente a maio, apontou taxa de 3,93% em 12 meses.
Segundo Campos Neto, o aumento da taxa entre 2021 e 2022 é "prova viva" de que o trabalho do BC foi técnico. "Se isso não é uma prova de que você é independente, e agiu com autonomia, é difícil encontrar outro exemplo como esse."
O presidente do BC lembrou ainda que a decisão de junho do Comitê de Política Monetária (Copom) foi unânime, mesmo com quatro membros indicados pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mostrando coesão. "Acho que a história e o tempo vão mostrar que o trabalho foi feito da melhor forma que podíamos com os dados que tínhamos, e que foi feito da forma mais técnica", afirmou Campos Neto.
<b>Fim de mandato</b>
O presidente do Banco Central afirmou que nunca teve o objetivo de ser reconduzido ao cargo, independentemente de quem ganhasse a eleição. Durante o evento, ele afirmou que as incertezas sobre a sucessão no BC elevaram o prêmio de risco na curva de juros. No entanto, para ele, com o tempo esse prêmio de risco tende a diminuir.
Campos Neto descreveu a decisão da mais recente reunião do Copom como uma pausa. E lembrou que o Brasil foi um dos primeiros países a subir as taxas de juros após o choque da pandemia, dada a visão de uma inflação mais persistente no mundo.
Em paralelo à convergência da inflação corrente, o BC engatou um ciclo de relaxamento monetário. Porém, ponderou Campos Neto, as expectativas, em função de "muitos ruídos", começaram a desancorar (ou seja, a se distanciar das metas oficiais).
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>