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Ruy Ohtake lança livro com síntese de sua obra

Se Oscar Niemeyer ficou conhecido por contestar a hegemonia da linha reta consagrada pela Bauhaus, o arquiteto Ruy Ohtake levou ao paroxismo o uso das linhas curvas – o mais recente exemplo é o Aquário do Pantanal, em Campo Grande, em forma de zepelim, um corpo cilíndrico e arrojado cujas obras foram retomadas em abril. Mas não é preciso ir até o Mato Grosso para ver as curvas de Ohtake. Elas estão presentes em vários prédios de São Paulo projetados por ele, do instituto que leva o nome de sua mãe, a pintora Tomie Ohtake (1913-2015), ao Hotel Unique, passando pelo condomínio residencial de Heliópolis, obra cheia de cor e ousadia numa comunidade carente e periférica.

É justamente essa folia cromática e as formas curvas que ajudaram a tornar seus edifícios conhecidos por apelidos – o Unique é chamado carinhosamente pelos taxistas de “melancia”, um longo arco invertido com duas empenas laterais de concreto. Pode-se ou não gostar de suas soluções arquitetônicas, mas é impossível ignorar a arquitetura de Ohtake. Exemplo de uma criação inusitada é a correspondência entre a forma externa e o espaço interno do Unique – os apartamentos da extremidade de cada pavimento acompanham a curva da fachada, mas essa forma inaudita, em que o piso alcança o teto, agrada aos hóspedes, que disputam justamente esses quartos.

O Unique é um dos muitos projetos analisados no livro Ruy Ohtake – Arquitetura e Design – Quatro Décadas, que a editora J.J. Carol lança nesta segunda-feira, 4, às 19 horas, no Instituto Tomie Ohtake. A obra traz ainda alguns projetos de design e mobiliário do arquiteto, tanto em madeira como em concreto.

Um dos textos do livro, inédito, foi redigido em 2007 pelo arquiteto italiano Roberto Segre (1934-2013), autor de mais de 35 livros e quatro centenas de ensaios sobre arquitetura e urbanismo da América do Sul e Caribe. Segre, ao analisar a obra de Ohtake, inclui o arquiteto entre os herdeiros da obra de Lúcio Costa, identificados com o movimento moderno que revelou Niemeyer. O italiano aponta exemplos dessa influência inicial nas primeiras residências projetadas por ele, as de Rosa Okubo (1964) e a de sua mãe Tomie (1968), uma casa extremamente confortável em que praticamente não há separação entre espaço externo e interno, refletindo a personalidade da artista – especialmente no que se refere ao ascetismo construtivo de ambos, mãe e filho.

A presença do cromatismo robusto nos prédios de Ohtake, segundo Segre, começou a ganhar força nos anos 1980, quando o brasileiro projetou a embaixada do Brasil em Tóquio (1981), avançando nos anos 1990 com a construção do hotel Renaissance (1992) e culminando em 2005 com a inauguração da torre que abriga o Instituto Tomie Ohtake – um vermelho metálico de drops Dulcora, guloseima da época em que Ruy era jovem. Segre observa como esses prédios destacam-se na paisagem cinzenta de São Paulo, servindo de pontos de referência numa metrópole carente de marcos e dominada pela uniformização arquitetônica.

Autor de 420 obras espalhadas pelo Brasil, três centenas delas em São Paulo, Ohtake já foi comparado por críticos dos EUA, como Paul Goldeberger, a nomes como o canadense Frank Gehry (autor do Museu Guggenheim de Bilbao) e ao norte-americano Richard Meier (prêmio Pritzker de 1984). Ele, contudo, não parece ter tempo a perder com o culto às celebridades. Além de sua intervenção em Heliópolis (2004), em que contribuiu com a população local pintando as fachadas das casas, sua atenção se volta a obras de uso coletivo – o Parque Ecológico do Tietê – e condomínios residenciais para comunidades de baixa renda, como destaca o fotógrafo Paul Clemence no livro.

RUY OHTAKE 4 DÉCADAS
Editora: J.J. Carol (240 págs., R$ 120).
Lançamento: hoje (4), 19h. Instituto
Tomie Ohtake (R. Coropés, 88, 2245-1900)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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