Na maior oferta de ações da história do setor de saneamento no País, a privatização da Sabesp foi concluída nesta quinta-feira, 18, alcançando a cifra de R$ 14,8 bilhões. Desse total, R$ 6,9 bilhões serão desembolsados pela Equatorial, que arrematou 15% do capital da empresa ao preço de R$ 67 por ação. O restante veio da oferta global, que foi encerrada ontem e atraiu 310 investidores institucionais. Ao todo, foram vendidas 191,7 milhões de ações da companhia, mais um lote extra de 28,7 milhões também ao preço de R$ 67,00 por ação.
Ontem, foi feita a distribuição das ações entre os investidores que participaram da oferta. A demanda total do mercado pelo papéis da Sabesp chegou a R$ 187 bilhões, recorde para uma oferta pública no Brasil. Este número, porém, está inflado, porque investidores pediram bem mais ações do que pretendiam comprar, já prevendo que haveria rateio no final. Essa percepção de que “faltaria” papéis levou a uma disparada das ações da Sabesp na B3, que ontem fecharam cotadas a R$ 82,00.
Da demanda total, 53% foram ordens de investidores estrangeiros – fundos de países da Ásia, da Europa, do Oriente Médio e dos Estados Unidos – e o restante de gestoras locais. Segundo agentes do mercado, a demanda veio de fundos de infraestrutura, que investem em água, utilities (prestadoras de serviços em energia e saneamento) e que adotam práticas sustentáveis (ESG).
Para chegar até estes investidores, o governador Tarcísio de Freitas e a secretária de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística, Natália Resende, foram ao exterior, para reuniões (roadshows) nos EUA, em Londres, Zurique, Miami, Paris e Genebra. No Brasil, houve encontros em São Paulo e no Rio de Janeiro. Ao todo, cerca de 270 investidores (140 locais e 130 internacionais) participaram dessas conversas.
Em fevereiro de 2023, a gestão Tarcísio de Freitas iniciou os estudos para os processos de desestatização. Em dezembro, o projeto de lei da privatização da Sabesp foi aprovado, começando então a preparação da venda, que durou quase oito meses. Com a venda concluída ontem, a fatia do governo paulista no capital da Sabesp caiu de 50,3% para 18%.
Solenidade na B3
A liquidação das ofertas de compra será na próxima segunda-feira, 22, na B3, onde deverá ocorrer também a solenidade para marcar a privatização da companhia com a presença do governador Tarcísio de Freitas e da secretária Natália Resende, além de representante dos bancos coordenadores da operação.
A oferta de ações da Sabesp teve como coordenador principal o BTG Pactual, além de Itaú BBA, Citi, Bank of America e UBS BB. Também participaram o Bradesco BBI, Goldman Sachs, JPMorgan, Morgan Stanley, JSafra, Santander e a XP.
O processo de privatização também foi alvo de muitas manifestações e críticas. Nos últimos meses, houve protestos na sede da Equatorial e em algumas Câmaras de vereadores de cidades, inclusive em São Paulo, durante as votações para a aprovação do processo. Partidos de esquerda, como o PT, PV, Rede, PSOL e PCdoB, também entraram com diversas ações na Justiça e até no Supremo Tribunal Federal (STF), contra a venda da estatal.
Um dos argumentos dos opositores da privatização é que a Sabesp está sendo vendida a um preço baixo. A Equatorial, única empresa a apresentar oferta para ser investidor de referência, propôs R$ 67,00 por ação. O valor estava abaixo das cotações da ação no mercado naquele momento, e se distanciou mais ainda das cotações atuais. A ação da Sabesp chegou à máxima histórica de R$ 85,00 nos últimos dias, recuando a R$ 82,00 ontem – ainda 20% acima do preço da Equatorial.
A privatização da Sabesp prevê compromisso de investimentos da ordem de R$ 70 bilhões até 2029 para universalização dos serviços de água e esgoto no Estado de São Paulo. A Equatorial também não poderá investir em áreas ou outros locais que concorram com a Sabesp, nem vender suas ações até lá. Além da Equatorial, nomes como a gestora IG4, a francesa Veolia, Aegea, Cosan, os canadenses da Brookfield e o grupo Votorantim chegaram a avaliar a participação na privatização.
Para pagar os R$ 6,9 bilhões ao governo de São Paulo, a Equatorial conseguiu um empréstimo-ponte com quatro bancos e prazo de 18 meses. Em paralelo, fez uma emissão de notas comerciais, liquidadas na última terça-feira, 16, e que serão dadas como garantia aos empréstimos. Os bancos participantes da emissão das notas são Itaú BBA, Safra, UBS BB e Bradesco BBI.
Capacidade de gestão
Única empresa a fazer proposta para ser a acionista de referência, a Equatorial se consolidou nos últimos 25 anos no setor de energia elétrica – atualmente é dona de 7 distribuidoras, 3 mil quilômetros de linhas de transmissão e negócios na área de energias renováveis. E estreou em saneamento há apenas dois anos, ao arrematar a concessão da CSA, do Amapá, por R$ 930 milhões.
A entrada da Equatorial no capital da Sabesp, como acionista de referência, é um salto gigantesco em sua atuação nessa área. Como acionista de referência, terá direito a indicar o presidente e os diretores da Sabesp, além de ficar com três assentos no conselho de administração – o governo paulista indica três nomes e outros três serão conselheiros independentes.
A Equatorial é o terceiro maior grupo de distribuição de energia do País em número de clientes (atende mais de 10 milhões de consumidores). Em 2023 faturou cerca de R$ 40 bilhões, com lucro consolidado de R$ 2,8 bilhões. Com capital bastante pulverizado, a empresa não tem um controlador definido – seus principais acionistas são os fundos Opportunity (6,3%), Atmos (5,7%) e Capital World Investors (5,2%).
A pouca experiência em saneamento, contudo, não é vista como um problema. A leitura do mercado é de que a operação pode ser positiva tanto para a Equatorial, que é conhecida por sua capacidade de gestão, quanto para a Sabesp, que tem uma operação consolidada no setor.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>