Economia

Saída da Dasa do novo mercado é vista como passo para fechamento de capital

A saída da Dasa do Novo Mercado, segmento de melhores práticas de governança corporativa da BM&FBovespa, poderá ser um passo nada transparente para facilitar o fechamento de capital da companhia, segundo fontes de mercado. Desde de que o controlador da companhia, Edson Bueno, ex-dono da Amil, assumiu o controle da empresa de laboratórios de diagnóstico médico dona de cerca 30 redes de laboratórios, como Delboni Auriemo e Lavoisier, há rumores de que sua intenção era tirar a companhia da bolsa.

Com a saída do Novo Mercado, a liquidez das ações em bolsa poderá ficar ainda mais reduzida, o que, na teoria, poderia facilitar o seu fechamento de capital. No entanto, os fundos Oppenheimer e Petros não têm mostrado disposição em se desfazerem de suas posições, mas a dúvida é de qual será a avaliação após a saída da companhia do Novo Mercado, por conta da expectativa de que haverá piora da governança da companhia.

No estatuto da Petros, por exemplo, está previsto que a área responsável pela gestão dos investimentos do fundo de pensão avaliará empresas para compor sua carteira considerando, entre uma série de itens, se a companhia está listada no Novo Mercado ou em níveis de governança corporativa da BM&FBovespa. A Petros possui 10% da Dasa, enquanto a Oppenheimer tem 10,10%, segundo informações do site da BM&FBovespa. Ainda não foi definido para qual segmento de governança irá a companhia, ou se migrará para o tradicional.

Os minoritários brigaram, antes da realização, na semana, da Assembleia Geral Extraordinária (AGE) que tratou sobre a saída da companhia do Novo Mercado, para que os controladores ficassem de fora da votação. No entanto, como esse aspecto não está especificado entre as regras do Novo Mercado, os controladores votaram pela saída da empresa do segmento de governança. Existe a possibilidade de que o processo vá para a Câmara de Arbitragem do Mercado da BM&FBovespa.

Esse movimento da Dasa ocorre pouco tempo depois de outro fato que trouxe mais cautela dos investidores em torno da governança da companhia foi a eleição do filho de Edson Bueno, Pedro Bueno, de 25 anos, para a presidência da companhia.

A Dasa deverá realizar uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) e o preço das ações ainda será determinado por um laudo a ser elaborado pelo Itaú BBA, escolhido pelos acionistas na AGE.

Embora não seja possível prever o valor das ações na oferta, a expectativa é de que ele seja mais baixo do que o pago por Bueno e sua ex-mulher em outra OPA em 2014, quando eles passaram a deter os atuais 71,94% de participação direta e indireta na Dasa. O preço das ações naquele momento foi fixado em R$ 15. Já em abril, a Cromossomo, empresa de Edson Bueno, previu em uma correspondência à Dasa que o preço da OPA deste ano seria de R$ 10,50 por ação.

Regras

Uma preocupação que tem ganhado força entre investidores é se haverá outras investidas de acionistas controladores para tirar companhias dos segmentos da bolsa que exigem melhores práticas de governança corporativa. Para Renato Chaves, sócio da consultoria especializada em governança corporativa, Mesa Corporate Governance, seria importante iniciar uma discussão pela bolsa para incluir entre as regras do Novo Mercado o impedimento do voto do controlador em assembleia para decidir a saída dos segmentos. “Essa seria uma mudança relativamente simples e que traria mais isenção para a tomada de decisão”, acredita o especialista.

“Uma deslistagem do Novo Mercado, no fundo, demonstra que uma empresa está abrindo mão de melhores práticas de governança. O importante é não haver um retrocesso em relação aos ganhos que foram obtidos no mercado brasileiro desde o lançamento desse segmento”, destaca a sócia da consultoria MBS Value, Fabiane Goldstein.

O sócio da área de Mercado de Capitais do escritório Mattos Filhos, Renato Ximenes, acredita, por sua vez, que não há conflito de interesse do controlador votar nessas assembleias. Segundo ele, é importante não se criar novas travas que tragam dificuldade para as empresas saírem do segmento de listagem, assim como da bolsa, já que isso pode trazer ainda o efeito não desejado de afastar novas companhias de abrir capital.

Além disso, Ximenes destaca que é preciso entender qual o interesse da empresa em realizar esse movimento. “Uma recomposição do free float para cumprir com as regras do Novo Mercado pode não fazer mais sentido para a empresa”, afirma. O regulamento do Novo Mercado prevê a necessidade de se manter um free float mínimo de 25%. A Dasa, ainda segundo informações disponíveis no site da BM&FBovespa, tem cerca de 7% de suas ações circulando livremente pelo mercado.

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