Dois acontecimentos atípicos contribuíram para a queda de 0,5% do estoque de crédito em junho, segundo avaliação do economista Everton Gomes, do Banco Santander. Pela ordem, a valorização do real na passagem de maio para junho e o ajuste em curso no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), expõe o economista.
De acordo com a Nota de Crédito de junho, divulgada nesta quarta-feira, 27, pelo Banco Central (BC), o estoque de total de crédito no País sofreu uma diminuição de R$ 17 bilhões no período em análise, caindo de R$ 3,147 trilhões em maio para R$ 3,130 trilhões em junho.
A valorização cambial, que levou o dólar para R$ 3,20 em junho, de R$ 3,60 no mês anterior, representou uma queda de R$ 10 bilhões no estoque de crédito. Este valor resulta da soma de R$ 5,2 bilhões referentes às operações de Adiantamento de Contratos de Câmbio (ACC) e R$ 4,9 bilhões em repasses externos, explicou Gomes, ressaltando se tratar, neste caso, de pessoas jurídicas.
“O resto ficou por conta do BNDES, que no geral já reduziu em R$ 13 bilhões as suas linhas de investimentos”, observou. Para Gomes, o BNDES tem agido em linha com o ajuste fiscal, diminuindo spread negativo através de aumento das suas taxas.
A história recente do banco de desenvolvimento brasileiro mostra que entre 2007 e o final do ano passado houve um aumento de mais de R$ 500 bilhões na sua carteira de crédito, de R$ 120 bilhões para R$ 633 bilhões. “Agora isso está voltando aos poucos”, disse Gomes.
Considerando que o ajuste fiscal em curso é um processo longo, Gomes intui que a carteira do BNDES deve ser um fator a puxar para baixo o estoque de crédito ao longo do segundo semestre.
Na comparação de junho deste ano com o mesmo mês no ano passado, o estoque de crédito cresceu 1%, conforme o BC. Tal crescimento, no entanto, oscilou abaixo da inflação na mesma base de comparação.
Inadimplência
A taxa média de inadimplência no crédito livre fechou em 5,6% em junho ante 5,8% em maio, com a inadimplência de pessoa jurídica caindo ligeiramente de 5,3% para 5,1% e a da pessoa física passando de 6,3% para 6,1%. Para Gomes, a explicação é que o crédito cresceu muito, mas como a crise já era anunciada os bancos tiveram tempo para se preparar. E isso explica, por exemplo, a inadimplência no setor crescendo abaixo do que poderia subir com a magnitude do desemprego.
Agora, de acordo com Gomes – o cenário do Santander contempla corte da Selic já no Copom de agosto -, o crédito deverá aos poucos retomar a trajetória de crescimento. Não será uma retomada imediata. Para este ano, o banco projeta queda de 2% no crédito. Mas para 2017 a previsão é de expansão de 7%. Este crescimento se dará em um cenário em que a Selic, pelas projeções do banco, estará em 10% ao ano ou 4,25 pontos porcentuais a menos que o nível atual.