O São Paulo divulgou nesta quinta-feira o áudio gravado da conversa entre o vice-presidente de futebol, Ataíde Gil Guerreiro, com o então presidente do clube, Carlos Miguel Aidar. O material foi o estopim da crise política ocorrida em outubro que causou a renúncia do mandatário, envolvido em acusações de corrupção e desvio de dinheiro durante a gestão de um ano e meio no clube.
A gravação foi realizada na noite de sábado, dia 3 de outubro, na sala da presidência, no estádio do Morumbi. Ataíde levou um gravador guardado no paletó para produzir provas contra Aidar. O então presidente motivava desconfiança do vice de futebol por desviar dinheiro de transferências, cobrar comissões e favorecer a namorada, Cinira Maturana, em contratos do clube.
Ataíde decidiu gravar a conversa para produzir provas que fizessem Aidar se afastar no clube. No material de 17 minutos, reproduzido no CT da Barra Funda na manhã desta quinta-feira, alguns trechos estão inaudíveis pela má qualidade da gravação. O dirigente afirmou que decidiu levar o gravador escondido depois do ex-presidente oferecer que repartissem a comissão pela contratação de um jogador da Portuguesa.
Na gravação, os dois falam primeiramente sobre a divisão política do clube até Ataíde retomar uma conversa realizada dias antes, quando Aidar lhe ofereceu repartir a comissão pela vinda de Gustavo Cascardo da Portuguesa, que tem como empresário um cliente do escritório de advocacia do ex-presidente. “Ele paga honorários para mim. Só isso. E eu repasso a você em dinheiro. Não é nem em cheque, não tem rastro nenhum, nem para você, nem para mim”, diz Aidar no áudio.
Minutos depois, Aidar afirma que o então vice-presidente de comunicações e marketing, Douglas Schwartzmann, tinha por hábito pedir 15% de comissão em todos os contratos do clube. O ex-mandatário ainda escuta do vice de futebol a acusação de favorecer a namorada no contrato com a Under Armour para fornecimento de material esportivo. “Caiu nas minhas mãos o acordo que a Cinira fez com a Under Armour. Ela recebeu R$ 1 milhão e dez parcelas de R$ 500 mil, a última termina em julho de 2019.”
Durante a apresentação do áudio, Ataíde afirmou que decidiu gravar o então presidente por estar irritado com uma série de irregularidades na gestão, como, por exemplo, desvio de dinheiro em outras transferências anteriores de jogadores como Douglas e Denilson, além de decidir e resolver sozinho as contratações de Alan Kardec e Wesley sem consultar o departamento de futebol.
O áudio foi gravado dois dias antes dos dois dirigentes brigarem durante reunião da diretoria em hotel na capital paulista. O episódio da discussão e também a gravação são alvo de investigação da Comissão de Ética do clube, formada por cinco membros. O grupo teve alterações em três dos integrantes nesta semana.
A gravação foi divulgada pela primeira vez na manhã desta quinta-feira para a imprensa. Os conselheiros do São Paulo e demais membros da diretoria do clube ainda não tiveram acesso à reprodução do material.