Há um mês fora do Ministério Público de São Paulo, de onde saiu para assumir a Secretaria de Segurança Pública no Ministério da Justiça, o ex-procurador-geral de Justiça do Estado Mário Sarrubbo mantém sua influência na entidade e articula nos bastidores para evitar que seus adversários o sucedam no comando da instituição.
Trocas de mensagens a que o <b>Estadão</b> teve acesso mostram que Sarrubbo traça estratégias junto a aliados para garantir que os procuradores José Carlos Bonilha e Antônio Carlos da Ponte, integrantes de um grupo adversário ao seu, fiquem de fora da lista tríplice, definida neste sábado, 13, em eleições da categoria. Um destes três nomes será escolhido pelo governador Tarcísio de Freitas. Procurado, o ex-procurador afirmou que respeitará qualquer decisão do chefe do Executivo estadual.
Em um grupo de WhatsApp, batizado de Cosenzo 2024/2026, em alusão a José Carlos Cosenzo, um dos candidatos ao cargo, Sarrubbo pediu a procuradores que também votem em Paulo Sérgio Oliveira, para que ambos entrem na lista tríplice e, assim, minimizem o risco de que um integrante de outro grupo vença.
"Compreendo a questão do voto único. Mas ponderaria a importância de termos mais um nome com nosso perfil na lista", disse o secretário de Segurança Pública. Sua posição teve apoio de outros integrantes do grupo, como o promotor Leonardo Rezek Pereira.
"Sabemos que ser o candidato mais votado não garante a nomeação. Não quero uma lista com Ponte e Bonilha, nossos verdadeiros adversários (principalmente o segundo)", disse Rezek, ao que Sarrubbo respondeu: "concordo". Rezek também foi procurado pelo Estadão para comentar o diálogo, mas ainda não se manifestou.
A preocupação dos membros do grupo é que o governador não escolha o candidato com mais votos, a exemplo do que fez João Doria, em 2020, ao nomear o próprio Sarrubbo, segundo colocado naquela eleição, na qual Antonio Carlos da Ponte foi o mais votado.
Como revelou o <b>Estadão</b>, aliados de Jair Bolsonaro tentam aproximar José Carlos Bonilha de Tarcísio, devido à afinidade ideológica do procurador com agendas defendidas pelo ex-presidente e seu histórico de embates com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
Desde setembro de 2022, Bonilha responde a um processo administrativo disciplinar (PAD) por criticar resolução editada por Moraes, enquanto presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que proibiu eleitores de levarem celulares para a cabine de votação. A norma determinava que os mesários retivessem os aparelhos e que não autorizassem quem se negasse a entregá-los a votar.
"Ordens manifestamente ilegais não devem e não podem ser cumpridas. O presidente do TSE, ao regulamentar a eleição dessa forma, extrapola todos os limites constitucionais", disse na ocasião.
Parte dos interlocutores de Sarrubbo no grupo não concordou em dispersar os votos em dois candidatos, o que gerou mais ponderações por parte do ex-procurador-geral. Ele chega a revelar que conversou com o governador e com o secretário estadual de Segurança Pública, Guilherme Derrite.
"Peço responsabilidade com esse tema. Ninguém aqui conhece o governador mais do que eu. Me permita. Sei o que estou falando. Vai por mim amigo. Tenho conversado com Derrite e com o governador", disse.
Por meio de nota enviada pelo Ministério da Justiça, o secretário Nacional de Segurança Pública, Mário Sarrubbo, afirmou que respeitará qualquer decisão do governador Tarcísio de Freitas. Segundo a Pasta, "na relação republicana estabelecida com o governador paulista, Sarrubbo levou a ele suas impressões da vida institucional no Ministério Público -onde ficou por 35 anos- e suas convicções a respeito da sucessão na chefia do órgão".
"Não obstante minhas reflexões junto ao governador, tenho convicção que, como representante máximo do Estado de São Paulo, ele fará a melhor escolha para a população. Esclareço, no entanto, que de minha parte, seja qual for o posicionamento do governador terá, por óbvio, o meu mais absoluto respeito e aceitação", diz Sarrubbo na nota enviada pelo MJ.