Há 52 anos, o Brasil teve o privilégio de abrigar, durante três meses, dois dos maiores pensadores do século XX: Jean Paul Sartre e Simone de Beauvoir. Tinham, então, 55 e 52 anos de idade, respectivamente. Haviam publicado algumas de suas mais importantes obras. E estavam no apogeu do seu prestígio intelectual. Sartre já tinha escrito “A náusea”, “O ser e o nada”, “O existencialismo é um humanismo”. E a “Crítica da razão dialética” acabara de ser preparada. Simone já havia lançado “Por uma moral da ambiguidade”, “O segundo sexo” e “Os mandarins”.
Sartre e Simone desenvolviam suas carreiras de grandes filósofos-literatos de modo anticonvencional. Sartre chegou a recusar um Prêmio Nobel de Literatura. Eles viviam juntos graças a um criativo acordo inovador que haviam estabelecido entre eles, em substituição ao casamento tradicional. Com estes comportamentos, eram amados por jovens em muitos países.
Durante sua permanência no Brasil, o casal esteve em Recife, Olinda, Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Brasília, Fortaleza, Belém e Manaus. Nestas viagens, os dois conviveram demoradamente com Jorge Amado e Zélia Gattai que lhes serviram de companhia e intérpretes. Mas eles estiveram com outras personalidades brasileiras. Entre as quais, o cronista Rubem Braga, o pintor Di Cavalcanti, o geógrafo e cientista social Josué de Castro, o líder comunista Carlos Prestes, o arquiteto Oscar Niemeyer e o presidente Juscelino Kubitschek e seu sucessor, Jânio Quadros.
Uma multidão de jovens foi esperar os franceses no aeroporto do Rio de Janeiro. E quando passaram por São Paulo, Sartre foi levado a Araraquara, para uma com conferência que se tornou célebre. Seu tema: a maneira como, em “Crítica da razão dialética”, ele havia demonstrado a possibilidade de conciliação entre a escola filosófica a que pertencia, a existencialista, e o marxismo.
Na plateia, ouvindo-o, a mais refinada elite pensante do país: o então sociólogo Fernando Henrique Cardoso e sua esposa, a antropóloga Ruth Cardoso, o diretor de teatro José Celso Martinez, o crítico literário Antônio Cândido, entre outros.
Esta temporada no Brasil Simone relataria com detalhes no livro “Sob o signo da História”.