Eles tinham apenas 11 anos quando embarcaram no projeto e, nesta sexta-feira, 9, viram o seu satélite, construídos nos últimos seis anos, ser lançado do Centro Espacial Tanegashima, no Japão, para a Estação Espacial Internacional (ISS) de onde será colocado em órbita. É o primeiro satélite brasileiro a ser produzido por estudantes da educação básica.
O satélite foi desenvolvido por um grupo de seis estudantes da Escola Municipal Presidente Tancredo de Almeida Neves, de Ubatuba. A ideia surgiu em 2010 do professor de matemática Cândido Moura. Para a efetivação do projeto, eles contaram com a assistência técnica e aulas no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e da Agência Espacial Brasileira (AEB), que incluiu os estudantes no programa Satélites Universitários e arcou com os custos dos testes e do voo do equipamento para estação espacial.
“Sou formado em Física, mas dou aula de Matemática. Na época, conversei com os colegas da escola e todos ficaram empolgados. Sabíamos que a ideia era inusitada, mas queríamos dar essa oportunidade para os alunos, de criar algo e não só reproduzir um conteúdo de sala de aula”, contou Moura.
Segundo o professor, a primeira tentativa para desenvolver o satélite foi feita com um kit americano, mas o equipamento foi redesenhado por um pesquisador do Inpe. Moura disse que o satélite lançado nesta sexta, batizado de Tancredo 1, foi totalmente produzido e construído no Brasil.
A iniciativa, segundo Moura, não envolveu apenas os seis estudantes, mas mais de 700 alunos da escola. “O projeto cresceu e é muito maior, a gente abre turmas todos os anos para dar aulas de eletrônica, mecânica e mais de 50 se inscrevem. Em três ou quatro meses, eles já conseguem produzir algo que funcione e ficam encantados.”
Além disso, os alunos que participaram da construção do satélite também viajaram para os Estados Unidos, onde conheceram a Nasa (agência espacial americana), e para o Japão onde apresentaram um paper em um congresso aeroespacial.
“Foram muitas conquistas desde que comecei a participar, mas o mais importante foi ver o quanto eu gostava de Ciências e Matemática. Eu sempre tive interesse por essas disciplinas, mas nunca tinha tido a oportunidade de colocar em prática”, contou Nathalia da Costa, de 17 anos. A estudante tinha 11 anos quando começou a desenvolver o satélite e neste ano prestou vestibular para entrar no curso de Engenharia Aeroespacial.
Difusão
Walter Abrahão, tecnologista do Inpe, disse que o instituto viu no projeto uma oportunidade de difusão de conhecimento e de aproximação dos jovens com a ciência. “Para nós foi um aprendizado muito grande também, sempre auxiliamos e fazemos pesquisas com universitários. Mas, para esses alunos, tivemos que adaptar nosso conteúdo para uma linguagem deles”, contou.
Para Pedro Kaled, tecnologista da AEB, a missão dos estudantes já está totalmente concluída. “O maior sucesso desse projeto foi dar uma educação de mais qualidade e permitir que esses estudantes tivessem contato com a produção científica. Uma das missões mais nobres da agência é a difusão de conhecimento e conseguimos completar essa missão com esses estudantes”.