A Universidade Metodista de São Paulo incumbiu o ator Armando Azzari de criar um grupo de Teatro apenas com alunos da instituição. Corriam os anos de 1980, quando a Metodista era ainda um instituto, e, Armando um de seus professores na Faculdade de Comunicação Social.
Em pouco tempo os membros do grupo formado por ele começaram a surpreender professores e colegas, nos corredores e nas salas de aulas, com um comportamento alegre, esfuziante, desinibido. Algo incomum naquela instituição de ensino religiosa, onde grande parte do corpo discente era composto de jovens que escolhiam o turno da noite porque tinham de trabalhar durante o dia para pagar sua educação superior.
A fadiga do trabalho acentuada pelo cansaço dos grandes, demorados e complicados deslocamentos impostos a quem vive em São Paulo, mantinham discretos, e, muitas vezes, alheios às aulas, aqueles alunos. A mesma situação era enfrentada por jovens que ouviam as preleções de Armando e ensaiavam as peças escolhidas por ele. Porém, se antes mostravam o mesmo retraimento deles, a vivacidade, o ânimo, a empolgação que passaram a exibir pareceu compor um tipo de renascimento pessoal vindo no bojo de uma revolução pedagógica detonada por Armando na Metodista.
Foi esta força transformadora do Teatro que sustentou a carreira de Walmor Chagas. Isto ele já havia revelado, na década anterior, durante uma entrevista concedida ao jornalista Roberto Benevides. A entrevista foi publicada em 1972, na Bondinho, revista em que se juntaram os mais criativos profissionais de nosso Jornalismo num período de endurecimento total da Ditadura Militar Pós-1964. Nela está provavelmente a mais longa e bela reflexão que Walmor fez sobre seu próprio destino de ator consagrado, assim como sobre o Teatro do Brasil, naquele momento.
Para Benevides, Walmor disse que só podia entender o Teatro como “uma porretada na cabeça das pessoas”. Algo como sacudida forte, dada com o intuito de fazer as pessoas acordarem para uma modificação essencial na vida delas. “Se isto não acontece, não vale a pena fazer Teatro”, acrescentou Walmor.