João Doria (PSDB) assume hoje o comando da Prefeitura com o objetivo de provar que a Capital precisa de um gestor, não de um político. Terá quatro anos para mostrar que vai governar para os mais pobres e diz que trabalhará 12 horas por dia. Especialistas ouvidos pelo Estado, porém, apontam ressalvas às metas e prazos que o tucano anunciou até aqui.
A cerimônia de posse será às 15 horas, na Câmara Municipal. No comando estará o ex-senador e agora vereador Eduardo Suplicy (PT), que assume a função por ser, aos 75 anos, o mais velho da Casa. Em seguida, Doria recebe o bastão de Fernando Haddad (PT), no Teatro Municipal. Ali, lançará oficialmente seu programa “Cidade Linda”, mutirão que visa a limpar ruas e praças.
O novo prefeito começa, no entanto, com a velha prática política de anunciar “choques de gestão”, a começar pela zeladoria. Afirma que estará a postos amanhã, às 6 horas, vestido de gari, com seus 22 secretários, para varrer a Praça 14 Bis, no centro. O mutirão é visto com ressalvas. “Ele está certo em fazer ações de zeladoria, mas não é só uma questão de limpar a cidade. Precisa ter investimento para colocar padrões nas calçadas, guias, bancos, tirar a fiação exposta para ficar com cara de cidade do século 21”, diz o professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP) Lucio Gomes Machado.
Dúvidas
O mais ousado de seus compromissos está na área de Educação. Doria prometeu zerar, em um ano, a fila de 133 mil crianças por vagas em creche, por meio da ampliação de convênios com entidades da rede privada. Nos cálculos de Cisele Ortiz, coordenadora do Instituto Avisa Lá, o prefeito teria de inaugurar 1 mil unidades com 150 vagas. “Algo que não me parece possível de ser feito em um ano.” Para ela, seria importante flexibilizar o tamanho das creches. “Há um limite mínimo e quantidade mínima de alunos. Em algumas regiões, um equipamento menor já resolveria o problema.”
“O primeiro grande desafio é o financiamento, o que exigirá do novo prefeito a abertura de novas fontes ou o remanejamento interno”, diz o especialista em Educação da Universidade Federal do ABC (UFABC) Salomão Ximenes.
Na saúde, outra tarefa nada fácil: acabar com a fila por exames, que é de 417 mil, em 90 dias, a partir da contratação de serviços da rede privada.
Para Walter Cintra, coordenador do Curso de Especialização em Administração Hospitalar da FGV, o prazo não parece suficiente, mesmo com parcerias. “Aparentemente, é pouco tempo. Seria preciso reavaliar a necessidade de todos esses exames, quantos pacientes já não precisam mais, se alguns estão em mais de uma fila.”
Outra preocupação da gestão é manter a tarifa de ônibus a R$ 3,80. Para o professor do Departamento de Engenharia de Tráfego da USP Claudio Barbieri da Cunha, Doria teria de mexer nas gratuidades do bilhete único. “Gratuidades são ótimas e é um pouco antipático falar disso, mas é preciso avaliar melhor se elas estão sendo dadas para quem realmente precisa.”
Cunha questiona ainda a promessa de aumentar a velocidade nas Marginais. “Essa virou uma discussão quase religiosa, de fé. Mas o fato é que há muito pouco estudo sobre os acidentes nas Marginais”, diz. “Acho que 90 km/h é um limite muito alto para as pistas expressas. Mas volto a falar: é uma opinião. Os dados de acidentes têm de ser mais transparentes para que a comunidade possa estudar e avaliar o problema.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.