Cidades

SAÚDE – Porque ninguém quer trabalhar em Guarulhos

Não é difícil entender porque Guarulhos não atrai médicos para o atendimento público. Bem antes do programa do governo federal, nos últimos anos, a Secretaria Municipal de Saúde abriu vários concursos emergenciais para a contratação de médicos, mas n

O primeiro, que já saiu de Guarulhos, contou que atuava numa UBS em um bairro da periferia. Cumpria jornada de 20 horas semanais, chegava – com seu automóvel depois de enfrentar engarrafamentos seguidos no Trevo de Bonsucesso – pela manhã e já encontrava o posto lotado com pessoas doentes. Alguns com agendamento e outros que buscavam um atendimento emergencial. "Era impossível atender todo mundo. Por mais profissional que a gente seja, era impossível não viver o drama de cada um".

O médico lamenta: "Tinha dia que não havia nem medicamentos básicos para ofertar aos pacientes até para aliviar uma simples dor de cabeça. Havia até orientação para evitar pedir exames mais detalhados porque a gente sabia que iria demorar e não resolveria o problema.

Teve um caso em que na consulta percebemos que havia grande probabilidade de uma senhora ter um câncer na mama. Encaminhamos para os exames necessários mas, algum tempo depois, soubemos lá no bairro que ela havia falecido antes mesmo de iniciar o tratamento já que o exame foi agendado para seis meses depois".

Uma médica pediatra que ainda atende em uma UBS conta que tem medo de trabalhar em Guarulhos. "Certo dia, chegaram com uma criança em estado grave ao posto. Não tinha o que a gente fazer. Precisava encaminhar para um hospital. Mas os pais não tinham condições e estavam desesperados. Chamamos uma ambulância Samu que demorou para chegar. O pai, revoltado, partiu para cima de mim, exigindo que eu salvasse a vida da filhinha dele. Por pouco não me agrediu. Fiquei em estado de choque. Não tinha um GCM para dar segurança. Uma atendente lá da frente chegou a ser empurrada quando a família chegou. Meu marido insistiu para que eu pedisse demissão, mas ainda não sei o que fazer. Se eu sair, aquela UBS ficará sem assistência por muito tempo".

O terceiro profissional da saúde não se conforma com as alegações de que não há médicos brasileiros interessados em trabalhar nas periferias. Ele relata que algumas administraçõesmunicipais, como a de Guarulhos, não dão as mínimas condições de trabalho. "A gente até tenta. Mas não tem nem dipirona em muitos postos. Falta material básico. Algumas vezes não tem nem atendente. Quero ver como um médico cubano vai lidar com uma situação destas.

 

Não podemos fazer milagres"

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