Estadão

Segunda fase de desinflação é mais difícil, com redução de núcleos, diz Campos Neto

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta terça-feira, 5, que o mundo está passando por uma "segunda fase" do seu processo de desinflação após a pandemia. Essa etapa, explicou, é caracterizada pela necessidade de um esforço adicional para reduzir os núcleos de inflação, com uma taxa de sacrifício da economia também potencialmente maior. "A gente tem esse <i>last mile</i> última milha, que está acontecendo em vários lugares do mundo e, no Brasil, também tem o <i>last mile</i>. Eu acho que é importante perseverar, porque, se não perseverar nesse momento, pode fazer com que o processo inflacionário volte", afirmou, em evento organizado pelo Julius Baer Group no período da manhã, em São Paulo.

Com a inflação mais baixa e a necessidade de um sacrifício adicional na economia para promover a convergência final à meta, Campos Neto considera que a sociedade começa a discutir se é ideal fazer esses sacrifícios para levar a inflação ao alvo.

"É natural que, quando você chega a esse ponto, sociedade e classe política comecem a questionar qual é o nível de sacrifício que você quer fazer para atingir a meta", afirmou Campos Neto.

Antes, o presidente do BC voltou a repetir que a pandemia ocasionou um forte aumento na demanda por bens, que ainda não retornou à tendência pré-pandemia.

Para Campos Neto, isso explica em parte a inflação persistente no mundo, já que a produção de bens consome mais energia. Ele também repetiu que a resposta de política fiscal e monetária à pandemia foi "muito intensa" no mundo todo.

<b>Política fiscal dificulta processo</b>

O presidente do Banco Central disse ainda que as autoridades monetárias do mundo estão fazendo os ajustes necessários para perseguir a última etapa do processo de desinflação, mas a política fiscal continua dificultando o processo. "A parte monetária fez o ajuste ou está fazendo, mas a parte fiscal, nem tanto", afirmou.

Para Campos Neto, o crescimento dos Estados Unidos, por exemplo, tem se mantido forte devido à política fiscal expansionista. Com a queda esperada para os gastos em 2024 e a o aumento de juros promovido pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), o presidente do BC afirma que pode haver uma desaceleração "contratada" no ano que vem.

Sobre os ajustes de juros no mundo, ele destacou que, ao contrário do Brasil, o mundo desenvolvido não havia testado seu sistema de metas antes da pandemia. Após a crise, mesmo os bancos centrais desenvolvidos passaram a preferir conduzir a política monetária como emergentes, elevando os juros mais para evitar perda de credibilidade, afirmou.

"O que a crise mostrou é que o mundo desenvolvido começou a se sentir como emergente, pensando que talvez seja melhor elevar um pouco mais os juros, porque, se tiver de parar e depois voltar, vai perder credibilidade", afirmou Campos Neto.

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