Você já deve ter ouvido falar de casos famosos, como a morte do ator Tyrone Power durante a filmagem de Salomão e a Rainha de Sabá, ou das doenças de Elizabeth Taylor que atrasaram as filmagens de Cleópatra e catapultaram o orçamento a níveis estratosféricos. No caso de épico bíblico de King Vidor, as filmagens ficaram paralisadas, enquanto o estúdio selecionava outro ator – que, só para constar, foi Yul Brynner.
No caso de Joseph L. Mankiewicz, a Fox quase foi à bancarrota, e por um motivo que não deixa de ser paradoxal. Na época, o estúdio pagou à estrela o maior salário da indústria de Hollywood – US$ 1 milhão pelo papel. Como se não bastasse, o contrato previa adicionais caríssimos, se a filmagem se estendesse, o que ocorreu em razão do estado de saúde de Liz. No fim, ela embolsou US$ 17 milhões, um valor que hoje não impressiona tanto, mas em 1963 era impensável.
Mais recentemente, na filmagem de Guerra nas Estrelas – O Despertar da Força, uma porta hidráulica da nave espacial Millenium Falcon foi fechada no momento errado e quebrou a perna esquerda do ator Harrison Ford. O incidente provocou uma investigação do Departamento de Saúde e Segurança do Reino Unido, que aplicou uma multa de £ 1,6 milhão na produtora da aventura espacial. E isso, claro, sem falar da morte de Paul Walker, aos 39 anos, faltando um mês para fechar 40, num acidente de carro durante folga das filmagens de Velozes e Furiosos 7. Para concluir a produção, o estúdio lançou mão do irmão do ator como dublê, retocando-o digitalmente num recurso muito caro. Há informação de que, só por causa disso, a produção ficou US$ 50 milhões mais cara. O sucesso internacional compensou o investimento, mas não foi só isso, não. Toda a produção estava coberta por seguro, um procedimento padrão em Hollywood, mas que só agora começa se constituir em norma de filmes brasileiros.
Aqui, Midiã Borges é consultora de Riscos e Seguros para Entretenimento, Eventos, Esportes, Filmes e Obras de Arte da Aon Brasil. “Fora do País já virou um procedimento normal e aqui a gente já vinha segurando eventos como o Rock in Rio e grandes shows internacionais. O que ainda estamos desenvolvendoo, para filmes, é esse conceito de que 1% ou 2% não vão encarecer a produção, mas em compensação oferecem uma cobertura que garante a tranquilidade de qualquer equipe.”
O filme a se beneficiar desse novo estado de coisas foi o recente Soundtrack, de 300 ml, com Selton Mello, Seu Jorge e o inglês Ralph Ineson. O diferencial é que a história supostamente se passa no Ártico, mas a produção foi inteiramente filmada em estúdio, com uma máquina que fabricava neve falsa, no Rio. “A Aon fez um estudo dos riscos envolvidos nas etapas de pré-produção, produção e pós-produção e desenhou o pacote de seguros. A seguradora escolhida foi a americana Chubb, uma das pioneiras no segmento.”
Midiã acrescenta que a apólice contratada oferece coberturas para acidentes pessoais, responsabilidade civil e riscos diversos. Também foram consideradas outras coberturas importantes, como a perda acidental do HD em que o filme está armazenado e a proteção dos equipamentos cinematográficos. No fim, nada ocorreu e a própria Midiã suspirou, aliviada. “Mas é que nem seguro de casa. Você faz para garantir, para não chorar depois do incêndio ou da inundação.”