A pouco mais de um ano dos Jogos Olímpicos do Rio, a ginástica artística brasileira toma todos os cuidados possíveis para não repetir o racha que criou um hiato de 15 anos entre as gerações de Daiane dos Santos e de Rebeca Andrade. Se no feminino foi ponto comum a retomada da seleção permanente, entre os homens há uma divisão de opiniões desde a inauguração de um moderno Centro de Treinamento na Barra da Tijuca. Diego Hypolito quer permanecer no ABC paulista e Arthur Zanetti trata o período com a seleção como uma etapa importante da preparação. O grupo ligado ao Pinheiros-SP, entretanto, mudou-se de mala e cuia.
Depois de dois ciclos olímpicos bem-sucedidos (apesar da falta de medalhas), as principais ginastas do País rejeitaram a continuidade do projeto de Curitiba. Com Daniele Hypolito e Daiane longe das sedes dos clubes, a ginástica feminina não revelou mais destaques até Rebeca e Flávia Saraiva estrearem este ano.
Agora é a equipe masculina que vive seu auge. É consenso a necessidade de esforços conjuntos para classificar a equipe para os Jogos do Rio e a solução encontrada foi criar períodos de treinos para a seleção no Rio. “Se você falar que a gente está se mudando para lá, meu clube (o SERC/São Caetano-SP) vai me mandar embora, vou ficar sem salário”, brincou Marcos Goto, técnico de Zanetti. Ficar longe do clube significa estar afastado do desenvolvimento de quem não está na seleção. E Goto enfatiza: “O objetivo é classificar a equipe do Brasil para os Jogos Olímpicos”.
Dez anos depois do seu primeiro título mundial, Diego Hypolito viveu muita coisa na ginástica e até já ficou sem clube. Por isso, defende São Bernardo-SP. “Não posso passar uma borracha nas pessoas que influenciaram o meu trabalho antes disso”.
Arthur Zanetti, campeão olímpico nas argolas, prefere ver o lado positivo e acredita que o trabalho conjunto deve ajudar a evolução das equipes. “Com certeza vai ser bom, vai servir de espelho”.
Os atletas do Pinheiros também abraçaram a causa. “No Rio os aparelhos são melhores, a gente consegue treinar mais porque não tem escolinha. No Pinheiros a gente sobe 10 vezes no aparelho, no CT a gente sobe 25”, comparou Ângelo Assumpção, de 18 anos, principal nome da nova geração.
Arthur Nory, Péricles Silva e Francisco Barreto também devem voltar para São Paulo apenas em véspera de competições, acompanhados do técnico Cristiano Albino. Leal a Renato Araújo desde os tempos de Flamengo, Sergio Sasaki continua sem clube. Mesmo machucado, o ginasta se instalou no Rio e usará o novo local como base para seus treinamentos.
Francisco Barreto, do Pinheiros, sintetiza bem o conflito. “Quando você sai, o clube acaba perdendo o espelho que a criançada tem dentro do ginásio. Por esse lado é um pouco ruim. Como é reta final, a gente não tem escolha. Tem de se unir e treinar pesado”.