O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central cumpriu na quarta-feira, 4, a promessa de elevar a taxa Selic em 1 ponto porcentual, de 11,75% para 12,75% ao ano, e sacramentou o mais longo ciclo de aperto monetário ininterrupto da história do comitê – após 10 aumentos seguidos. O Copom, porém, abriu mão de finalizar o ciclo neste mês, diante de uma inflação que não para de surpreender e de notícias preocupantes no cenário internacional.
A decisão foi tomada horas depois de o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), também preocupado com as pressões sobre os preços, elevar a taxa básica de juros para o intervalo entre 0,75% e 1% – uma alta de 0,5 ponto porcentual. O Fed não fazia uma elevação dessa magnitude desde maio de 2000.
Tanto nos EUA quanto no Brasil, um aumento dos juros encarece o crédito e o custo da dívida pública, elevando o risco de uma desaceleração maior da economia. Com financiamento mais caro, empresas podem segurar investimentos, com impacto no emprego e na renda. Juros mais altos nos EUA tendem ainda a aumentar o ingresso de recursos na maior economia do mundo e, consequentemente, valorizar o dólar frente a outras moedas – afetando economias emergentes como a brasileira.
No Brasil, o Copom sinalizou que pode fazer um novo movimento de alta – em menor escala – na próxima reunião, em junho. O mercado financeiro aposta em um aumento de 0,5 ponto. Citando mais de uma vez a conjuntura econômica incerta, o BC preferiu, desta vez, não cravar sua atuação para um período maior de tempo, como fez nas comunicações do Copom de março.
"Para a próxima reunião, o comitê antevê como provável uma extensão do ciclo com um ajuste de menor magnitude. O comitê nota que a elevada incerteza da atual conjuntura, além do estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos ainda por serem observados, demandam cautela adicional em sua atuação", disse o BC, no comunicado da decisão.
<b>PROJEÇÕES</b>
A menção ao cenário incerto também esteve presente quando o BC apresentou suas novas projeções de inflação, destacando que a incerteza em torno de suas premissas e estimativas "atualmente é maior do que o usual".
Desta vez, o colegiado considerou no cenário de referência o barril de petróleo terminando o ano em US$ 100. No último Copom, em março, o BC tinha usado essa premissa do petróleo no cenário alternativo, mas, desta vez, passou a usá-la como único cenário.
O BC prevê agora um IPCA (índice oficial de inflação) de 7,3% para 2022, acima do teto da meta (de 5%), e de 3,4% para 2023, superando o centro da meta no ano (de 3,25%). As estimativas, contudo, estão muito abaixo do que o mercado projeta – 7,9% e 4,1%, respectivamente, conforme o Boletim Focus.
Em relação aos riscos do cenário de inflação, o BC continuou a prever fatores em ambas as direções, mas deixou de citar que via uma "assimetria altista", ou seja, maior probabilidade de inflação mais alta. Porém, pregou cautela na avaliação com "a conjuntura particularmente incerta e volátil" que "requer serenidade na avaliação dos riscos".
<b>RISCO FISCAL</b>
O colegiado também passou a incluir de maneira mais direta entre os riscos a "incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do País", embora tenha repetido que essa incerteza já estaria parcialmente incorporada nas expectativas de inflação e nos preços de ativos. A advertência vem num momento em que o presidente Jair Bolsonaro, que vai tentar a reeleição, indica a aprovação de novas despesas que podem pesar nos gastos do próximo governo. Além disso, existe no Congresso movimento para flexibilizar o teto de gastos, mecanismo que atrela as despesas públicas à variação da inflação.
Em pesquisa do Projeções Broadcast realizada antes do Copom, das 51 casas participantes, apenas 12 projetaram 12,75% como patamar do juro básico no fim do ciclo de alta. As outras 39 esperavam continuidade do aperto monetário depois do encontro desta semana. Uma previu a Selic em 13%, 26 falaram em 13,25% e outras 12 apostaram em 13,50% ou mais.
Ex-secretário de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda, o professor da FGV-SP Márcio Holland vai além e já enxerga a Selic chegando a 14% ao ano, exigindo novos apertos do Copom nas duas próximas reuniões. "Minha aposta é de uma alta de 0,75 ponto em julho e, dada a pressão inflacionária, para realmente conseguir jogar a inflação para dentro das bandas da meta do próximo ano, vão precisar de outro 0,5 ponto", disse. (Colaborou Francisco Carlos de Assis)
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>