Economia

Sell-off afeta bolsas de NY e Dow Jones apaga ganhos do ano

Os mais recentes sinais de abalo na confiança dos investidores nos mercados acionários dos Estados Unidos voltaram a se fazer presentes nesta quarta-feira, 24. Novos tremores em Nova York foram sentidos e levaram o índice Nasdaq ao território de correção técnica, enquanto o Dow Jones e o S&P 500 apagaram todos os ganhos que haviam sido registrados este ano. No foco, novamente, estão preocupações com o crescimento econômico global em um cenário no qual as disputas comerciais cada vez mais pesam nos resultados das empresas americanas e na expansão da economia chinesa. Além disso, a aproximação das eleições de meio de mandato americanas tem impulsionado a volatilidade nos mercados, o que se intensificou após ataques a lideranças do Partido Democrata.

“O crescimento global desacelerando, as tensões comerciais aumentando e uma série de relatórios de balanços do terceiro trimestre mais fracos do que o esperado de empresas do setor industrial americano foram divulgados recentemente”, escreveu o economista Spencer Hill, do Goldman Sachs, em relatório enviado a clientes. Esses fatores se somam em um cenário no qual a expansão econômica americana continua robusta e o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) não pretende abandonar seus planos de aperto monetário.

Sumário das opiniões sobre a economia dos EUA de cada distrital do Fed, o Livro Bege apontou que a atividade se expandiu em um ritmo modesto a moderado no país, mas, na unidade de Dallas, a atividade cresceu a um ritmo forte. Além disso, a maioria dos distritos relatou que o mercado de trabalho também cresceu em um ritmo modesto a moderado, enquanto algumas empresas relataram dificuldade em encontrar mão de obra especializada, o que vem resultando em mais bônus aos trabalhadores, além de aumentos salariais modestos. “O último Livro Bege rebaixou um pouco a descrição do crescimento, mas a nova versão indica a continuidade da discussão sobre o aperto no mercado de trabalho, à medida que salários e preços cresceram a um ritmo de modesto a moderado”, disse o economista Daniel Silver, do JPMorgan.

Dado esse cenário, a manutenção do aperto monetário empregado pelo Fed é vista como certa. O banco central projeta uma nova elevação nos juros em dezembro e outros três aumentos em 2019, seguido de uma nova alta em 2020. O pano de fundo global, contudo, sugere cautela. A desaceleração da economia chinesa se uniu a dados abaixo do esperado da atividade na zona do euro divulgados durante a manhã, enquanto indicadores mostram que as perspectivas para a economia japonesa estão menos positivas, de acordo com a IHS Markit.

Com o crescimento sincronizado da economia global desfeito e a disparidade aumentando entre os EUA e outros países, os investidores saíram de ativos considerados mais arriscados, como as ações, deixando de lado, principalmente, papéis de empresas que, até então, eram tidas como as favoritas do mercado: as giant techs. Mesmo com resultados muito acima do esperado por analistas, a Netflix viu sua ação despencar 9,40% somente nesta quarta-feira, entrando em “bear market”. As perdas da empresa não vieram isoladas, com Microsoft (-5,35%), Amazon (-5,91%), Google (-5,18%) e Intel (-4,67%) acompanhando o movimento. As techs levaram o Nasdaq a fechar em correção técnica, ao cair mais de 10% em relação a um pico recente.

Parte do “sell-off” foi atribuído aos balanços abaixo do esperado de empresas como 3M e Caterpillar, divulgados na terça-feira, que mostraram números abaixo das projeções e indicaram que seus resultados serão afetados pela briga tarifária travada pelo presidente dos EUA, Donald Trump. Hoje, essas empresas voltaram a apresentar fortes perdas, com a 3M em baixa de 4,16% e a Caterpillar em queda de 5,58%. O dia não foi salvo nem mesmo pela Boeing, que, após lucro e receita acima das estimativas dos analistas, subiu 1,31% no dia.

Completando a tempestade perfeita, o noticiário político apontou cautela. No início da tarde, o governador de Nova York, Andrew Cuomo, afirmou que pacotes enviados a diversas figuras públicas democratas continham bombas e configuravam ato terrorista. Os ex-presidentes Barack Obama e Bill Clinton, a ex-secretária de Estado Hillary Clinton, o megainvestidor George Soros e a rede de TV CNN foram os afetados pelo ataque, que se deu duas semanas antes das eleições americanas de meio de mandato.

De acordo com estrategistas da NatWest Markets, “os mercados pareceram estar no limite diante da série de dispositivos explosivos enviados a atuais e antigas lideranças democratas”. Além disso, para eles, o mercado imobiliário “sem brilho” também pesou no sentimento, depois que as vendas de moradias novas caíram 6,6% em setembro ante agosto, em um resultado pior do que o esperado pelo mercado (-0,6%) para o indicador. (Colaborou Monique Heeman)

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