A crise chegou para todos, mas um grupo de empresas que ganhou escala nos últimos anos, porém ainda não estão com gestão totalmente profissionalizada, mostra-se mais vulnerável neste momento de vendas em baixa e aperto do crédito. Consideradas até pouco tempo atrás a “mola propulsora” do crescimento econômico, as médias empresas – indústrias, varejistas e prestadoras de serviços que geralmente têm controle familiar e faturam de R$ 20 milhões e R$ 500 milhões por ano – agora se veem ameaçadas pela turbulência econômica que não parece ter data para terminar.
“Se as médias começarem a quebrar, como já está acontecendo, virá a tragédia do desemprego para o Brasil”, diz Marcelo Gomes, sócio-diretor da consultoria Alvarez & Marsal, especialista em recuperação de negócios em crise. Segundo levantamento feito em 2015 pela área corporativa do HSBC, há 7,7 mil negócios do gênero no País, que respondem por 13,7% do total nacional de empregos.
Grandes bancos hoje oferecem a negócios que faturam centenas de milhões de reais as mesmas condições de microempresários – Itaú, Bradesco e Santander trabalham, por exemplo, com a categoria PME (que junta micro, pequenas e médias empresas sob um só “teto”). Os balanços desses bancos refletem a gravidade da situação atual dos pequenos e médios negócios. No Itaú, a inadimplência das PMEs é 277% maior do que a das grandes companhias; no Bradesco, a diferença é de 1.000% e os calotes chegam a superar os das pessoas físicas.
No Santander, diz o diretor de empresas e instituições Ede Viani, são consideradas empresas médias as com receita entre R$ 20 milhões e R$ 200 milhões. Ele explica que esses negócios são atendidos em espaços específicos, e não nas agências. No que se refere aos juros, contudo, fontes dizem que não há distinção entre pequenas e médias. “O custo (de financiamento) está maior, até mesmo para as empresas grandes”, frisa Viani.
As taxas de juros para refinanciar empresas médias hoje encosta em 20% ao ano. É o que ocorreu com o empresário Vanoil Pereira, dono da empresa de calçados Passarela. Depois de investir para ampliar o e-commerce da marca, ele se viu sem caixa para enfrentar o período de vendas magras. Resultado: está em fase de renegociação com cinco instituições. Em um dos alongamentos, o juro anual ficou em 17%.
Saída
O que Pereira e outros empresários em dificuldades tentam fazer é garantir que a renegociação de seus débitos seja feita por via extrajudicial. “As empresas querem evitar a todo custo a recuperação judicial”, diz Gomes, da Alvarez & Marsal. Fontes dizem que essa saída hoje é vista como uma “sentença de morte” pelos credores.
Apesar disso, nos últimos meses, varejistas como Barreds (roupas femininas), BMart (brinquedos) e GEP (dona da Luigi Bertolli, da Cori e da representação da Gap no Brasil) tiveram de pedir recuperação judicial, que garante um período de seis meses para negociar com credores.
“As empresas sempre acham que vão sobreviver à crise e só buscam ajuda quando a situação está insustentável”, diz a advogada Juliana Bumachar, sócia do Bumachar Advogados Associados. Segundo a especialista, as médias só buscam ajuda quando a recuperação judicial já é praticamente inevitável.
É o caso da catarinense Indigo Jeans, que fatura R$ 70 milhões e sofre com o alto endividamento. A têxtil mudou a gestão e contratou Luis Paiva, da Corporate Consulting, para fazer reestruturação financeira e operacional. A nova direção chegou em janeiro, mas, segundo apurou o jornal O Estado de S. Paulo, a avaliação é que as chances de sucesso seriam maiores se a troca de gestão tivesse sido feita seis meses antes.
Com 500 funcionários, a têxtil, que tem marca própria e é fornecedora da Renner, tenta reativar as exportações para aproveitar o dólar alto. Como muitas empresas do mesmo porte, ela tem só uma saída: correr contra o relógio. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.