O prefeito Sebastião Almeida (PT) nunca escondeu de ninguém, pelo menos depois de assumir seu primeiro mandato, que acabar com as lotações em Guarulhos era uma questão de honra para ele. Tudo bem que, anos antes, quando era líder sindical e – aparentemente – andava ao lado do povo ele pudesse ter outra opinião. Mas isso é outra história.
Depois que enfiou goela abaixo da população o novo sistema de transporte público, há dois anos, sem antes estruturar a cidade para tanto, o embate entre Almeida e os donos das vans se tornou mais acirrado ainda. Sempre é bom lembrar que a categoria é formada por um contingente que agrega mais de 200 permissionários que conseguiram na Justiça o direito de circular na cidade. Desta forma, a Prefeitura foi obrigada a engolir os perueiros, que não aderiram ao Bilhete Único e mantiveram linhas diretas dos bairros à região central, à revelia inclusive dos planos da STT.
Sexta-feira – logo depois do Carnaval – o quadro mudou. A STT deu início a uma ação de fiscalização mais acirrada para tirar das ruas de vez os permissionários. Para tanto, se valeu de uma decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo que cassou a liminar que permitia a circulação desse meio de transporte. Parece que uma nova guerra foi declarada. Agora, até que a decisão seja derrubada – se que vai ser – a legalidade está ao lado da administração municipal.
Nunca é demais lembrar que contribuiu muito para a permanência das lotações a confusão causada pela implantação do novo sistema. Sem o devido planejamento, os passageiros foram prejudicados já que passaram a gastar mais tempo para se deslocar nas idas e vindas do trabalho para casa e vice-versa. Como a cidade não dispunha de terminais nos bairros e até hoje não conta com corredores exclusivos para os ônibus, não é de se estranhar que a idéia de utilização de micros dos bairros até os terminais para depois pegar mais uma ou até duas conduções até o destino tenha causado grande mal estar.
Já a Prefeitura tinha como trunfo a implantação do Bilhete Único, já que o passageiro pode usar mais de uma condução no período de duas horas com a mesma passagem. Lógico que isso é uma evolução. Mas, na prática, muita gente lamentou ter de perder muito tempo em seus deslocamentos. Nesse sentido, as lotações ainda eram uma válvula de escape para quem buscava mais agilidade no transporte dentro do município. Óbvio que as vans não eram e não são os veículos mais apropriados, já que transportam –via de regra – um grande número de passageiros, em muitos casos, sem a mínima segurança.
Concorre para aqueles que querem o fim dos perueiros o fato de que muitos desses profissionais não são – nem de longe – um primor em atendimento ao público. Vale o mesmo em relação ao respeito às leis de trânsito. Que não se generalize, mas os próprios permissionários sabem que a imagem que eles têm, principalmente junto às pessoas que não utilizam o serviço, não é das melhores.
A vontade de Almeida prevaleceu. O transporte público em Guarulhos volta a ficar exclusivamente na mão dos empresários de ônibus. Até mesmo os micros, aqueles que – em tese – deveriam absorver a mão de obra advinda das vans e suprir sua ausência, parecem estar ligados às empresas, que – aos poucos – foram incorporando lideranças das chamadas cooperativas.
Ou seja, o transporte público em Guarulhos, que carece de uma modernização urgente, incluindo outras formas como sistemas sobre trilhos, ainda agoniza. Não é difícil ver por aí coletivos apinhados de gente e pontos de ônibus superlotados. Que ninguém imagine que tudo se resolverá tirando as lotações de circulação. Precisa evoluir. E esse verbo, infelizmente, a administração local não saber conjugar.