“Não conseguia ler na lousa e estudava com uma luminária fixada na carteira. Sempre pedia a um colega para ditar as matérias para mim”. Assim Vanessa Carrilho Lanzarotto iniciou sua vida escolar. Hoje, graduada e pós-graduada, a mulher, que é deficiente visual, contribui para que pessoas na mesma situação que ela não tenham as mesmas dificuldades e ingressem no mercado de trabalho.
Vanessa nasceu com 10% da visão. Por ser uma doença progressiva, ela acredita que hoje enxergue 3% a 5% apenas. Após o período turbulento no colégio, ingressou no mercado de trabalho com um ‘bico’ na Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) como auxiliar de cozinha. Depois, passou para telefonista, profissão que perdurou em sua vida durante muitos anos.
A moradora da Vila Maria Luiza, região do Picanço, passou em um concurso público na Prefeitura de Guarulhos e passou a trabalhar como telefonista do Ipref (Instituto de Previdência dos Funcionários Públicos Municipais). Doze anos depois, já formada em pedagogia e especializada em escolarização e diversidade pela USP, Vanessa – por meio de mais um concurso – ingressou na Prefeitura como professora.
Neste momento, Vanessa, também especializada em deficiência visual pelo Instituto Benjamin Constant, iniciou seu processo de auxílio a pessoas que nasceram ou desenvolveram a mesma condição que a sua. No contraturno, a professora ensinava aos alunos braile e soroban – instrumento oriental muito utilizado para aplicar matemática aos deficientes visuais.
Aprovada em seu terceiro concurso público, desta vez como educadora social, Vanessa foi trabalhar no Posto Humanizado do aeroporto, mas teve dificuldade ao atender os estrangeiros por conta da língua. Então, foi remanejada à Subsecretaria de Acessibilidade e Inclusão, onde novamente pode fazer a diferença. Na Pasta, ela arquiva currículos de pessoas com deficiência e recebe contatos de instituições que disponibilizam vagas para este públicos. Eles encaminham os documentos às empresas e, muitas vezes, auxiliam no processo de intermediação. “Pretendemos que esse trabalho continue por vários anos e que, futuramente, venham mais profissionais capacitados na área”, afirma Vanessa.
No local, ela ainda ainda realiza atendimentos e orientações sobre os benefícios que as pessoas com deficiência possuem, por exemplo o cartão estacionamento e os descontos nas compras do carro zero quilômetro.
Ao lado da colega Fernanda, Vanessa criou o Peis (Práticas Educativas para Inclusão Social). O projeto, que virou lei no município, atende deficientes visuais com idade igual ou superior aos 12 anos. Enquanto Vanessa pode voltar a ensinar braile e soroban, Fernanda capacita e orienta os alunos sobre locomoção com autonomia e independência.
“Acredito que o que é mais difícil na nossa vida é o que Deus nos traz para que possamos nos preparar para cumprir o propósito dele e auxiliar as outras pessoas que passam pelas mesmas dificuldades”, finaliza.
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