Prestes a completar 60 anos, Maria Estela Neves fala sorrindo sobre seu projeto de distribuição de marmitas aos moradores de rua de Guarulhos. Entretanto, quem a vê esbanjando alegria não conhece os obstáculos superados por ela. Maria superou a fome, a morte de um filho e as agressões do ex-marido e transformou todo o sofrimento em solidariedade para auxiliar pessoas que vivem situações de vulnerabilidade.
Há 35 anos, Maria é casada com o Jacques, com quem teve os filhos Fábio e Jacques Junior. Seu primeiro casamento, contudo, apesar de ter gerado seus herdeiros mais velhos, não traz boas lembranças. “Ele bebia. Apanhei muitas vezes, mesmo grávida”, afirma Maria.
Nascida na região da Brasilândia, na capital, a mulher, que chegou a passar fome muitas vezes, veio para Guarulhos ainda jovem e – já mãe de Rogério – foi abrigada por um casal na cidade. Em 1996, uma grande dor tomou conta do coração. “Ele era responsável e começou a trabalhar cedo. Conheceu meu sofrimento e dizia ‘quando eu crescer, vou fazer tudo pra você”, lembra Maria ao falar de Rogério. Ele morreu em um acidente de carro no mesmo ano, antes de completar 19. “Ele morreu com a conta de luz e a lista de compras no bolso”, completa.
O falecimento do filho, duas décadas e meia depois, ainda machuca a mulher que ressalta nunca ter superado a dor, mas alega ter aprendido a lidar com a ausência. “No começo estava emocionalmente estragada, não conseguia trabalhar e sequer andar. Só queria ficar no Vila Rio, onde ele foi enterrado. Eu só chorava. Comecei a ver a vida de outra maneira e a lidar com crianças. Ele foi embora há 25 anos e a saudade é a mesma. A dor nunca saiu de dentro de mim”, enfatiza.
Projeto com moradores de rua
“É uma luta diária. Tenho que correr, ir atrás, pedir e, graças a Deus, até aqui tem dado certo. É o que me move”, garante Maria a respeito das marmitas que entrega a crianças e moradores de rua de Guarulhos.
A moradora do Jardim Primavera prepara três vezes por semana um cardápio especial e distribui ao lado do atual marido e do filho Ricardo, além de outros parceiros e voluntários que a auxiliam nas benfeitorias.
“Eu tive a escolha de ajudar as crianças e olhar para o próximo. Acho que é o único caminho que a gente consegue para encontrar a paz”, conclui Maria.