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Semana do Trânsito: o que você tem feito para melhorar?

Estamos exatamente em meio à Semana Nacional do Trânsito, um período emblematicamente separado para reflexão e ação sobre melhorias na mobilidade e no trânsito. Dois aspectos muito importantes sobre este tema são a velocidade média cada vez menor nas grandes cidades e o grande número de acidentes, mortos e feridos envolvendo veículos.
 
Nestes quesitos a motocicleta vai de um extremo ao outro, sendo uma excelente alternativa de mobilidade e um enorme desafio em termos de prevenção aos acidentes.
 
Sobre a mobilidade, os avanços nos últimos anos não são nada comemoráveis. O número da frota de veículos, principalmente de carros, cresceu assustadoramente nas últimas décadas, enquanto as vias nem de perto acompanharam este crescimento e o transporte público ainda é insuficiente e sem qualidade capaz de tirar o indivíduo do conforto do seu carro.
 
Neste cenário, a motocicleta desempenha um papel estratégico, pois além de ocupar pouco espaço, garante agilidade, economia e polui muito menos do que os carros. O problema é que há um enorme tabu em relação ao uso deste veículo.
 
As pessoas associam a motocicleta a acidentes e mau comportamento, mas quem utiliza moto diariamente sabe que a segurança está muito mais em suas mãos do que na de qualquer outra pessoa. É óbvio que todos estão sujeitos às fatalidades do trânsito e da vida, mas podemos fazer muito para evitar acidentes e seguramente isto faz toda a diferença.
 
As motocicletas são tão estratégicas para a mobilidade que se não fossem elas, a maior cidade do país já havia entrado em colapso. Considere a seguinte conta: temos em São Paulo um milhão de motocicletas ativas. Se considerarmos que apenas 20% delas estão na rua ao mesmo tempo, teremos 200 mil motos em circulação.
 
Vamos trocar apenas a metade delas por carros e considerar que em situação de trânsito parado, cada carro precisará de pelo menos sete metros para seguir no “anda e para” do dia a dia em São Paulo. Neste quadro, teremos 100 mil carros ocupando 700 quilômetros de vias, o que significa que a maioria das pessoas se quer conseguiria tirar o carro da garagem.
 
Sem contar que o transporte coletivo também entraria em colapso, pois estaríamos injetando neles as outras 100 mil pessoas – no mínimo. É uma análise simples, mas que ilustra claramente a importância deste veículo para a sociedade. O mesmo acontece em muitas outras cidades, viabilizando o transporte e o trabalho no interior de todo o país.
 
Já no combate aos acidentes, a evolução foi mais expressiva. Temos que reconhecer que foram feitas mudanças relevantes na legislação e gestão do trânsito e aspectos legais dos condutores. Bons exemplos foram: as mudanças na legislação de combate ao álcool e direção, com a instituição do uso do bafômetro e intensificação das blitz; ampliação das penalidades criminais e civis para o crime de dirigir alcoolizado e maior rigor contra a prática de "racha" (corrida) ou de manobras arriscadas, tanto de motocicletas quanto de usuários de quaisquer outros veículos motorizados. A multa prevista é de até R$ 3.830,80, em caso de reincidência em menos de 12 meses, que corresponde a vinte vezes o valor da multa de uma infração gravíssima.
 
Também podemos citar a ampliação do número de radares fotográficos, que são uma importante ferramenta para inibir as infrações. Porém vale ressaltar que alguns municípios vêm fazendo uso abusivo desta ferramenta e os transformando em máquinas de captação de recursos.
 
Como nossas autoridades não enxergam a motocicleta como alternativa para melhorar a mobilidade, acabam desprezando-as em termos de legislação e estruturação viária, o que, por consequência, amplia os problemas relacionados aos acidentes. O quadro que temos hoje se resume a pouquíssimos espaços para circulação, baixo nível de fiscalização e equivocadas campanhas de comunicação, não só desestimulando o uso de motocicletas, mas ampliando os riscos para quem as utiliza.
 
A cidade de São Paulo fez uma experiência bem sucedida com faixas exclusivas para motocicletas, mas que foram desativadas para dar lugar às faixas de ônibus e bicicletas. Segregar nas vias os veículos de maior fragilidade é uma ideia interessante no combate a acidentes. Nas poucas experiências existentes, os resultados foram satisfatórios.
 
Como mencionei, a criação da Semana Nacional do Trânsito é para reflexão e ação de todos, portanto cada um de nós certamente pode fazer algo, seja simplesmente repensar sua maneira de dirigir ou pilotar sua moto, seja orientando pessoas do círculo de contatos ou mesmo com ações mais efetivas, como promovendo um programa de prevenção de acidentes e conscientização – ou até propondo leis que possam melhorar a vida das pessoas no seu ir e vir diário. O fato é que você e eu podemos fazer alguma coisa. Mãos à obra?
 
Fernando Medeiros é diretor executivo da ASSOHONDA.

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